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terça-feira, 25 de agosto de 2015

Agenda Brasil pode derrubar mais a aprovação de Dilma, diz Boulos

Postado: O POVOonlineGilherme Boulos

Boulos: "Essa agenda tem potencial de levar a popularidade de 7% para zero. Ela é um pacto dos de cima contra os de baixo"

O coordenador nacional do MTST, em visita a Fortaleza, afirma que a presidente cede à direita na mesma proporção que é atacada por ela.

Convulsão social. Essa é a previsão de Guilherme Boulos, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), para o caso de o governo federal realmente acabar abraçando a “Agenda Brasil”, plataforma apresentada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB). “Essa agenda é de um nível de retrocesso que não se ousou neste país nem em momentos muito piores do que este”, diz.

O dirigente, que veio a Fortaleza a convite de professores da Universidade Estadual do Ceará (Uece), afirmou que, ao contrário do que dizem os defensores do governo, a presidente Dilma Rousseff (PT) não está fazendo o que pode. “Todas as sinalizações que o governo tem dado são de que quanto mais ele for acuado pela direita, mais irá ceder a ela”, acusa. Para Boulos, que também é filósofo, é preciso construir uma alternativa “nas ruas”. Confirma os principais trechos da entrevista concedida ao O POVO:


OPOVO - Como está o MTST do Ceará, neste momento de polarização social no País?

Guilherme Boulos - O MTST tem se fortalecido no Estado. Fez uma ocupação no ano passado em Messejana, mais uma este ano em Maracanaú, a Bandeira Vermelha... Tem obtido conquistas e vai continuar fazendo novas ocupações. O problema da moradia urbana na Região Metropolitana de Fortaleza é gravíssimo. É uma das capitais com maior déficit habitacional do País. E o MTST vai continuar fazendo sua organização, tanto pela moradia, quanto nessa mobilização mais geral a que você se referiu.
Nessa polarização social do Brasil, o MTST vai continuar fazendo o enfrentamento nas ruas, tanto a direita mais conservadora como às políticas do governo federal, como o ajuste fiscal e esta política econômica, que são desastrosas para o povo.


OP- Na sexta-feira, a presidente afirmou que o ajuste fiscal não iria atingir os programas sociais.

Boulos - Ela está atrasada, porque já está atingindo há muito tempo. O Minha Casa Minha Vida 3 deveria ter sido lançado no começo do ano. Agora, só será lançado, se de fato o for, em setembro. Foram cortados R$ 80 bilhões de orçamento, e os ministérios da Educação e das Cidades, que tratam muito de questões sociais, foram os dois mais atingidos. Este ajuste está sim jogando a conta da crise no colo dos mais pobres e está, sim, prejudicando programas sociais.
OP- Na semana passada, tivemos uma série de manifestações convocadas por centrais sindicais e movimentos sociais de esquerda que serviu também como uma resposta para as manifestações de domingo. Qual a avaliação que o senhor faze destes protestos?
Boulos - As manifestações do dia 16 buscaram canalizar a insatisfação social para um projeto social de direita e de retrocesso. Não havia ali nada da pauta de direitos sociais ou de trabalhadores. E a sua composição era majoritariamente de classe média e mesmo de setores mais ricos da sociedade.


Estas manifestações também tiveram um tom muito forte de intolerância, preconceito... Já as manifestações do dia 20 foram uma resposta no sentido de dizer que somos contra todo este pacote conservador e de direita, mas não foram em hipótese alguma em defesa do governo. É muito simplista dizer “dia 16 foi ‘Fora Dilma!” e dia 20 foi ‘Viva Dilma!”. Não foi nada disso. Quem esteve no dia 20 viu que foi um ato de duras cobranças contra o governo federal, contra o ajuste fiscal, contra a “Agenda Brasil”, que é um retrocesso”.


OP- O senhor falou sobre a Agenda Brasil, apresentada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros. Você acha que, do ponto de vista da popularidade, essa proposta tem possibilidade de recuperar algo?

Boulos - Essa agenda tem potencial de levar a popularidade de 7% para zero. Ela é um pacto dos de cima contra os de baixo. Se de fato o governo federal encampar essa agenda - o que não está dado, mas houve sinalizações -, ele vai estar sepultado politicamente. Ele pode tentar amenizar uma crise política com essa proposta, mas vai produzir uma imensa convulsão social. Essa agenda é de um nível de retrocesso que não se ousou neste País nem em momentos muito piores do que este.
OP- Então, é mais um prego no caixão?

Boulos -A menos que você ache que vai resolver a governabilidade no parlamento destruindo a governabilidade nas ruas, sepultando o que existe de possibilidade deste governo ter uma sustentação social. Porque essa agenda é isso: uma agenda contra o Brasil e contra a maioria do povo brasileiro.
OP- Desde 2013, está acontecendo um fenômeno que, para as gerações mais recentes, é novo, que é uma direita com capacidade de mobilização social para manifestações de rua. Por que você acha que isso aconteceu?
Boulos - Primeiro, destampou-se um caldeirão. Durante os últimos doze anos de governos petistas, teve-se certa coesão social. A partir de junho de 2013, destampou-se um caldeirão de mobilização social, tanto para o lado popular e de esquerda, tanto para o lado da direita. E a direita foi construindo uma capacidade de mobilização. A política cada vez mais tem transbordado para as ruas.


Agora, nós não podemos ignorar que uma parte importante da mobilização com bandeiras de direita atingiu os níveis que atingiu porque tem sido convocada, abertamente, pelos grandes meios de comunicação. Uma coisa é você fazer um ato convocado por movimentos sociais, outra coisa é ser convocado pela TV Globo.


OP- Nesse cenário, em que a direita conta com esse poder de mobilização potencializado pela grande mídia, os movimentos sociais de esquerda têm como se contrapor?

Boulos - É importante a gente entender que, nas mobilizações do dia 16, felizmente, nem todos eram de direita. Seria muita caricatura dizer isso. “100 mil pessoas na Paulista eram de direita!”, ou aqui, em Fortaleza. De forma geral, as pessoas foram porque estão insatisfeitas, e tem motivos legítimos para isso. Agora, de forma geral, as pessoas foram porque estão insatisfeitas, e tem motivos legítimos para isso. A direita tem buscado surfar na onda da insatisfação social e buscado canalizá-la para pautas que são de retrocesso para o País.
OP- Então, é possível dialogar com esses manifestantes do dia 16?
Boulos -A questão não são somente os que foram. É muita gente que talvez tenha ficado em casa e que também está insatisfeita. A maioria da população não está nas ruas. Você tem um setor que não está mobilizado, mas está descontente. E o nosso papel é apresentar uma saída para essa crise que não seja essa saída de retrocessos da direita, mas que também não seja “este governo está fazendo o que dá”, porque não está.


OP- Existe a possibilidade da presidente sinalizar para outro campo que não este que você define como conservador?

Boulos - É difícil acreditar nisso. Todas as sinalizações que o governo tem dado são de que quanto mais ele for acuado pela direita, mais irá ceder a ela. As saídas que esse governo tem apresentado são as piores possíveis. Nós não acreditamos em uma saída vinda de cima. A saída tem que ser construída nas ruas. (Renato Sousa - renatoallan@opovo.com)
Frases

"AS SINALIZAÇÕES DO GOVERNO SÃO DE QUE QUANTO MAIS ELE FOR ACUADO PELA DIREITA, MAIS IRÁ CEDER A ELA. AS SAÍDAS QUE SÃO APRESENTADAS SÃO AS PIORES POSSÍVEIS”"

"SE DE FATO O GOVERNO FEDERAL ENCAMPAR A AGENDA BRASIL, ELE VAI ESTAR SEPULTADO POLITICAMENTE. VAI PRODUZIR UMA IMENSA CONVULSÃO SOCIAL"

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