Há fortes evidências de que a falta de políticas públicas e acesso ao saneamento básico, aliado a crises de abastecimento de água podem ter influenciado na proliferação do mosquito Aedes Aegypti, vetor tanto da dengue, quanto da zika e da chikungunya. Para entender melhor o contexto histórico no qual está inserida a atual epidemia, entrevistamos o historiador Rodrigo Magalhães, que em seu doutorado na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) investigou a história do combate ao Aedes Aegypti em nível continental, ao longo do século 20
“Do final do século 19 até os anos 70, o foco é a febre amarela e todo combate que se desenha em torno do Aedes Aegypti tem como objetivo acabar com as epidemias de febre amarela, especialmente as urbanas. E foram essas campanhas que eu estudei mais a fundo. Elas foram bem sucedidas e resultaram na erradicação do mosquito Aedes Aegypti do Brasil em 1955”.
Ele defende que além de todas as medidas individuais que as atuais campanhas pregam, é preciso que o poder público garanta um serviço regular e que realmente funcione de fornecimento de água encanada, porque, segundo ele, onde falta água as pessoas tendem a acumular o máximo possível em baldes, caixas e afins, que acabam tornando-se criadouros do mosquito.
“Não foi à toa que em São Paulo teve uma grande epidemia de dengue no ano passado, no auge da crise hídrica. Isso ocorreu devido à falta de abastecimento, pois as pessoas estão acumulando água por necessidade. O governo precisa investir em saneamento básico já que as valas, poços e lixões são paraísos para o Aedes Aegypti se reproduzir”, conclui.
Rodrigo Magalhães coloca que a situação é desesperadora e todos os esforços devem ser feitos no sentido de erradicar novamente o Aedes Aegypti, não só do território brasileiro, mas de todas as Américas. “Ainda vamos sofrer mais um tempinho com essas epidemias. Teremos de tomar nossos cuidados com repelentes e desmantelamento de criadouros, além de, principalmente, pressionar o poder público no sentido do combate ao Aedes Aegypti. Mesmo se tudo isso der certo, infelizmente ainda sofreremos um pouco mais até voltarmos a uma situação de normalidade no que se refere à proliferação dessas doenças”.
Confira abaixo a entrevista completa com o professor Rodrigo Magalhães.
Correio da Cidadania: Em se tratando da dengue, a epidemia mais antiga que podemos encontrar nos arquivos da imprensa data de 1986. Houve alguma epidemia antes desta, enfim, de quando exatamente pode-se falar em epidemias como as de dengue, zika, chikungunya e semelhantes?
Rodrigo Magalhães: Essas três doenças são transmitidas por uma espécie de mosquito que é o Aedes Aegypti. Realmente, a primeira grande epidemia de dengue que temos notícia aconteceu em 1986 aqui no Rio de Janeiro, só que apesar disso a dengue já era identificada no país desde o final do século 19. Temos notificações de casos de dengue em Curitiba no final do século 19 e em outras cidades também. Acontece que nesse período, entre o final do século 19 e os anos 70 do século 20, a dengue ficou em segundo plano porque a grande preocupação que o mosquito Aedes Aegypti trazia era a febre amarela, uma doença que se mostrava realmente terrível e sobre a qual se conhecia muito pouco: o diagnóstico da doença era muito complicado porque ela se parecia com outras como a malária, seus sintomas eram muito semelhantes.
Além disso, era uma doença que afetava bastante o comércio internacional e o trânsito de pessoas, pois ao menor indício de epidemia, os países vizinhos levantavam quarentenas. A febre amarela era o grande problema sanitário durante boa parte do século 20 e o Aedes Aegypti, como transmissor, passou a ser o inseto combatido.
Do final do século 19 até os anos 70, o foco foi a febre amarela e todo combate que se desenhou em torno do Aedes Aegypti tem como objetivo acabar com as epidemias de febre amarela, especialmente as urbanas. E foram essas campanhas que eu estudei mais a fundo. Elas foram bem sucedidas e resultaram na erradicação do mosquito Aedes Aegypti do Brasil em 1955. Em 1958, a organização mundial da saúde atesta sua erradicação e, confirmada no Brasil, vários outros países do continente também conseguem. Isso até chegarmos a um momento em que no final dos anos 60 o mosquito está restrito a algumas regiões das Américas, como por exemplo parte do Caribe, América Central e o sul dos Estados Unidos.
A campanha de combate ao Aedes Aegypti e a febre amarela foi bem sucedida, mas não terminada, não finalizada e assim não se conseguiu erradicar o mosquito nas regiões supracitadas, fazendo com que a partir daí ele começasse a reinfestar o restante do continente desde o final dos anos 60 e durante os anos 70. Já nos anos 70, começamos a ver o problema da dengue passar para um primeiro plano da saúde pública.
A campanha continental de erradicação do Aedes Aegypti, embora não tenha conseguido eliminar o mosquito de todo o território das Américas, foi muito bem sucedida ao impedir a eclosão de epidemias urbanas de febre amarela. Ou seja, a febre amarela deixara de ser um problema. O mosquito ficou confinado e paralelamente também foi desenvolvida uma vacina contra a febre amarela, que deixou de ser um problema.
Mas como esse mosquito não foi erradicado por completo – e isso é até uma redundância, porque erradicar é, de fato, “acabar de vez” – ele voltou a infestar novamente outros países, trazendo consigo a doença principal nos anos 70: a dengue. Temos diversas notificações da doença em várias partes do continente nesta década.
Em 1981, tivemos a primeira grande epidemia de dengue do século, a maior de todas, em Cuba, e é até uma coisa inimaginável hoje: eram cerca de cem mil casos notificados por dia da doença. Enquanto isso, outros países iam enfrentando esse problema no começo dos anos 80 e, em 1986 tivemos a primeira grande epidemia de dengue do Brasil aqui no Rio de Janeiro, com uma quantidade absurda de casos notificados. 1986 foi o ano da primeira grande epidemia de dengue no Rio de Janeiro e lá se vão 30 anos, ou seja, são 30 verões em que convivemos com esse problema, culminando em 2016 com outras calamidades, como o vírus zyka e a febre chikungunya, também transmitidos pelo mosquito Aedes Aegypti.
Correio da Cidadania: O que tem sido feito ao longo desses 30 anos por parte do poder público para prevenir e combater essas epidemias?
Rodrigo Magalhães: Temos que voltar um pouco antes de 1986 porque é preciso ter as dimensões do que foi feito anteriormente e que culminou na erradicação do mosquito do país em 1958. Foi feito um trabalho minucioso, casa a casa, rua por rua, borrifando DDT, que era o principal inseticida na época. Para fazer o controle do mosquito, um serviço de vigilância epidemiológica foi muito bem implementado, identificava-se um caso de febre amarela assim que ele surgisse para que fosse possível combatê-lo, tratar o caso, erradicar a doença e vacinar a população das redondezas. Esse trabalho minucioso foi realizado no Brasil, em grande parte pelo Serviço Nacional de Febre Amarela (SNFA) no bojo da campanha continental para erradicação do Aedes Egypti. Esse trabalho foi muito bem realizado entre os anos 30 e 50, culminando, como falamos anteriormente, na erradicação do mosquito nesta década.
O que aconteceu a partir de 1958, quando o mosquito foi erradicado, é que paulatinamente o trabalho minucioso foi abandonado. Lentamente, os órgãos criados para combater a febre amarela no Brasil foram sendo extintos, tendo seu número de pessoal reduzido, suas atividades diminuídas, ou seja, há o que eu chamo na tese de um desmonte de toda a infraestrutura nacional voltada para o combate ao Aedes Aegypti, o que acabou criando as condições para o mosquito reinfestar o país a partir de 1967. Ou seja, nove anos depois de o país se ver livre do mosquito, ele reapareceu em Belém, primeiramente, e a partir daí foi se espalhando para todos os estados, jogando no lixo o trabalho que havia sido realizado nas décadas anteriores.
Houve uma nova tentativa nos anos 70, ele chegou a ser eliminado mais uma vez, mas voltou porque este trabalho não foi, como o anterior, coordenado com os outros países do continente. E aí vemos um problema, porque o Brasil faz fronteira com mais de 10 países na América do Sul. Não adianta nada fazer todo esse trabalho se também não for feito nos países vizinhos, porque a capacidade de reinfestação do mosquito é muito grande – ele voa através das fronteiras e infesta os territórios.
O trabalho coordenado, depois de 1958 e da campanha continental, nunca mais foi feito. O que o Brasil tentou fazer a partir de então foi combater o mosquito, e consequentemente a doença, somente em períodos agudos de epidemia, apelando nos anos 80, por exemplo, para o “fumacê”, que são aqueles carros que passam nas ruas jogando grandes camadas de DDT para eliminar o mosquito – hoje uma técnica muito criticada pelos pesquisadores e infectologistas porque acaba criando resistência no mosquito, fazendo até com que haja um projeto para regular essa medida. Paralelamente temos, e estou até escrevendo um artigo a respeito, um lento deslocamento da saúde pública no Brasil através do qual o governo tenta culpabilizar a população por doenças como a dengue.
Em outras palavras, o poder público tenta se redimir da responsabilidade sobre a doença e transmite a responsabilidade através de campanhas que apelam para a população “fazer sua parte”, não manter pneus usados no quintal, tirar água dos vasos de planta, combater poças de água, cobrir caixas de água etc. Tudo isso é muito importante, realmente, para eliminar criadouros do mosquito Aedes Aegypti.
No entanto, não basta: é preciso que o governo também assuma sua responsabilidade na eliminação desses criadouros. Fazendo o que, por exemplo? Um serviço regular e que realmente funcione de fornecimento de água encanada, porque onde não tem água as pessoas tentam acumular o máximo de água possível em baldes, caixas e afins, que, por sua vez, acabam tornando-se criadouros do mosquito.
Não foi à toa que São Paulo teve uma grande epidemia de dengue no ano passado no auge da crise hídrica. Isso ocorreu devido à falta de abastecimento, pois as pessoas estão acumulando água por necessidade. O governo precisa investir em saneamento básico porque existem valas, poços, lixões, que são paraísos para o Aedes Aegypti se reproduzir.
Resumindo: são duas coisas que não foram feitas desde então e que são necessárias: coordenar esse trabalho no Brasil com os países vizinhos que também têm o mosquito. Além disso, é preciso que o poder público assuma sua responsabilidade no combate à espécie, principalmente no que se refere a políticas de saneamento básico, facilitando o fornecimento de água encanada. Com isso, já se reduziriam enormemente os criadouros externos do Aedes Aegypti.
Correio da Cidadania: Qual sua análise em relação às epidemias dos últimos 30 anos no que se refere à diversos aspectos, tais como médicos, sociais, econômicos, temporais etc.?
Rodrigo Magalhães: O mosquito Aedes Aegypti é bem democrático, digamos assim. Porque ele não afeta somente a ricos ou somente a pobres. Ele se reproduz onde tem água parada com uma facilidade muito grande. Ele pode se reproduzir na piscina de uma cobertura do Morumbi ou numa caixa d´água nas periferias de São Paulo, onde a água encanada não chega. É o “caráter democrático” do mosquito. O que acontece é que quanto maior a aglomeração de pessoas, quanto maior o número de pessoas vivendo juntas em um mesmo espaço, seja em um bairro ou uma cidade, maior a possibilidade de o mosquito picar mais pessoas em um espaço menor de tempo. Portanto e obviamente, as grandes aglomerações populacionais estão mais sujeitas à doença. Ou seja, os lugares onde há mais pessoas compartilhando o mesmo espaço e em condições mais precárias de saneamento são os mais afetados pela dengue.
Se olharmos um mapa da epidemia de dengue do ano passado no estado de São Paulo veremos que as regiões periféricas foram muito mais afetadas, uma vez que esse problema da falta de água é fundamental para o crescimento de uma epidemia de dengue. É obvio que afetou o estado como um todo, com o racionamento, mas afetou muito mais os lugares onde o fornecimento de água já não era tão bom e passou a inexistir, obrigando as pessoas a se deslocar por distâncias maiores para carregarem seus baldes de água. E é claro que não vão levar um ou dois baldes por dia, elas vão acumular a maior quantidade possível de água para suas residências disporem desse elemento fundamental para sua sobrevivência. Ao fazer isso, criam verdadeiras maternidades para o Aedes Aegypti.
Soma-se a grande densidade populacional que existe nas periferias de São Paulo e temos uma grande crise de epidemia de dengue como a que houve na capital paulista. Resumindo: em um lugar onde o Estado não cumpre com sua responsabilidade de fornecer serviços de saneamento básico e abastecimento de água encanada regular, somado à uma grande densidade populacional, tem-se um ambiente propicio à eclosão de epidemias de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti.
Correio da Cidadania: Pensando no caso paulista, o que poderia ser feito para amenizar o quadro, haja vista que a crise hídrica sofre uma invisibilidade midiática tremenda?
Rodrigo Magalhães: O ideal era que não se chegasse a essa situação. Seria ideal que o serviço não só do estado de São Paulo, mas de todos os estados e do Governo Federal adotassem medidas preventivas para evitar que chegássemos à situação de epidemia. Como isso não foi realizado e como desde os anos 80 se criou uma tradição de se combater doenças apenas quando chegam ao seu pico máximo, ou seja, só se combate a dengue quando a epidemia está matando a torto e a direito, altamente disseminada, deixou-se chegar a essa situação. Agora não tem mais jeito. O único caminho, na minha opinião, é combater sem tréguas o mosquito Aedes Aegypti, onde quer que ele esteja.
Não vamos conseguir, ainda, desenvolver uma vacina contra a dengue, e mesmo que conseguíssemos, vacina não combate epidemia. Ela previne, mas durante surtos epidêmicos não tem uma capacidade muito grande, uma vez que as pessoas já estão expostas ao vírus. Nesse contexto, onde não temos ainda uma vacina e vivemos um cotidiano de epidemia, o caminho realmente é combater o Aedes Aegypti e seus criadouros. A mídia e a propaganda governamental insistem em combater os criadouros, e isso é muito importante para impedir que o mosquito nasça. Mas e os mosquitos que já nasceram e estão voando por aí e picando as pessoas?
É um trabalho sem trégua que deve ir nessas duas direções: combater os criadouros, tanto os residenciais com ajuda da população quanto os públicos que dependem de uma atuação do Estado, e fazer um trabalho de conscientização da população, que eu particularmente até acho bem feito, mas mantenho minha ressalva sobre a forma como a propaganda é feita, que dá a entender que a culpa é exclusivamente da população. É importante que o Estado reconheça seu papel e se insira, também, na tarefa.
Correio da Cidadania: E como avaliar um novo ingrediente dessa conjuntura que são os mosquitos transgênicos? Isso pode trazer alguma situação de melhora nesse combate?
Rodrigo Magalhães: O mosquito transgênico nasceu da ideia de se combater determinada doença sem eliminar toda uma espécie. Voltando no tempo, durante a campanha continental que eu estudei houve uma grande resistência de algumas categorias profissionais em relação a erradicar o mosquito, tendo em vista dois pontos: o primeiro que o mosquito ainda não estava devidamente estudado; o segundo por prejuízos ao meio ambiente ao erradicar uma espécie. Assim, desde os anos 60 sempre se procuraram outros caminhos no combate à crise, que não levassem à erradicação do Aedes Aegypti. Olhando por uma perspectiva histórica, nenhum dos caminhos propostos funcionou.
Mais recentemente, tivemos duas tentativas: pesquisadores da Fiocruz inocularam uma bactéria que impede o mosquito de transmitir a doença. A outra é exatamente o mosquito transgênico, que está sendo implantado em Pernambuco, a fim de esterilizar e impedir que o mosquito, mesmo existindo, transmita a doença. Mas é apenas uma iniciativa, e somente uma possibilidade. Tem gente séria trabalhando nisso e a proposta merece ser olhada com atenção.
No entanto, a questão do mosquito transgênico entra em discussão, assim como tudo que é transgênico: os estudos ainda são muito incipientes, são estudos que estão só começando e ainda não se tem uma medida de como afeta a saúde da população. Nesse caso, por exemplo, a picada do mosquito não irá mais transmitir a dengue, mas qual o potencial de essa picada transgênica no que se refere a outros danos à saúde humana? Não há ainda estudos conclusivos.
É uma possibilidade e pode até funcionar em um contexto agudo de epidemia como o que estamos vivendo, mas na minha opinião não resolve o problema maior, que é a existência do Aedes Aegypti em um mundo que já mudou bastante. Nosso lixo é diferente do lixo dos anos 70, pois se degrada com menor rapidez, possibilitando um maior acúmulo. Tal acúmulo, por sua vez, leva a um acúmulo de água. É o cenário perfeito para a reprodução do Aedes Aegypti, enquanto o caminho é a eliminação dele.
Segundo pesquisas recentes, o mosquito tem capacidade de transmitir mais de cem doenças e aqui ainda estamos lidando com apenas quatro delas: a febre amarela, dengue, zika e chikungunya, apenas quatro em um cenário de mais de cem doenças que o mosquito pode trazer. Em outras palavras, é uma espécie que traz um perigo muito grande para a humanidade, de modo que não há outro caminho. Desequilíbrio por desequilíbrio já existe. O próprio aumento de densidade do Aedes Aegypti está ligado ao extermínio dos seus predadores naturais que já não existem. É extremamente necessário combater esse mosquito e reduzir seu número em grande quantidade, ou até eliminá-lo.
Correio da Cidadania: Como avaliar a maneira como a população lida com a situação no que se refere ao combate do mosquito vetor? Como que a recepção das notícias e informações sobre o tema têm afetado a população?
Rodrigo Magalhães: Talvez esse seja o único ou um dos únicos lados positivos dessa epidemia. A propaganda massiva, o fato da epidemia estar na mídia, com alertas sobre os perigos nos jornais, televisões e etc.. isso vem para conscientizar a população sobre os cuidados que ela deve ter com a saúde pública. Então, vemos as pessoas muito mais preocupadas com os seus reservatórios domésticos de água, tomando medidas em suas residências e até no exterior delas: aqui no Rio de Janeiro a televisão tem mostrado pessoas que cuidam não só da sua residência mas também da rua onde moram.
Nesse sentido, essa propaganda desesperadora e apocalíptica que tenta culpabilizar a população até que teve um efeito benéfico uma vez que a população se conscientizou do seu papel individual na melhoria das condições da saúde pública na sua localidade. Essa propaganda, mesmo com todas as críticas que possamos fazer à seu método, vem de certa forma despertando uma consciência de cidadania compartilhada onde a pessoa se enxerga como responsável pelo seu bem estar no que se refere à saúde pública. Isso é fundamental. O que não pode acontecer é que esse efeito sirva para retirar, como falei anteriormente, a responsabilidade do Estado. Isso não pode acontecer!
É preciso sim que se incentive essas campanhas de conscientização, de redução de criadouros e tudo mais, sem que se esqueça da responsabilidade maior que é do poder público. Sobre o combate em si o que vemos observando é que esta campanha vem cumprindo um papel importante no combate ao Aedes Aegypti. Temos localidades onde a incidência de dengue, zika e chikungunya já vem diminuindo devido a esse trabalho de conscientização. Reitero: por mais importante que seja essa atuação popular, somente o trabalho feito nas residências não é suficiente para que consigamos sair dessa situação de epidemia que vivemos no momento.
Correio da Cidadania: Quais as perspectivas para os próximos anos a respeito da erradicação tanto da epidemia, quanto do mosquito em si? Inclusive levando em consideração a recente “declaração de guerra” feita pelo Governo Federal contra o Aedes Aegypti?
Rodrigo Magalhães: Estamos pagando o preço por décadas de abandono desse trabalho de combate ao mosquito. A recente declaração de guerra do Governo Federal ao mosquito é bastante bem vinda, ainda que tardia.
Sendo assim, ainda vamos sofrer bastante com essas epidemias até que sua incidência se reduza e até que consigamos de fato combater e reduzir consideravelmente a população de Aedes Aegypti. Como já falamos, a situação atual vem acompanhada de uma complexidade muito maior do que a do período que eu estudei. O lixo que produzimos é diferente e o ambiente urbano é maior e mais complexo, portanto, hoje é muito mais difícil de se combater o Aedes Aegypti.
Sempre me perguntam se eu acredito que podemos erradicar o mosquito novamente. Podemos conseguir, ou não, erradicá-lo. Nos anos 40 se tentou, não se conseguiu, mas houve um efeito benéfico para a saúde pública, que foi frear as epidemias urbanas de febre amarela. O que penso é que devemos recuperar esse norte: o objetivo tem que ser o de combater a espécie, onde quer que ela exista. Se vamos conseguir, é outra história. Porém, no caminho entre tomá-lo como meta e conseguir atingir o objetivo, tenho certeza que vamos chegar a uma série de sucessos no campo da saúde pública e um deles será, certamente, a redução e o controle dessas epidemias e doenças que estamos vivenciando hoje.
A perspectiva para os próximos anos não é muito boa. Teremos dois anos até que a vacina para a dengue fique pronta, mais uns três anos para a vacina do zyka vírus ser elaborada, fora o período de testes. Assim, ainda estaremos mergulhados na epidemia. Mas, como disse anteriormente, vacina não combate epidemias, apenas as previne.
Por um lado, o que me deixa um pouco pessimista é que se anteriormente, sob uma situação menos complexa, levamos 40 anos para erradicar o Aedes Aegypti, agora em 2016, quando nós decidimos novamente erradicá-lo em um cenário muito mais complexo, quanto tempo levaremos? Esse é o aspecto pessimista. Por outro lado, há um aspecto otimista: hoje em dia temos muito mais tecnologia, informação e comprometimento da população do que tínhamos nos anos 40 e 50.
É importante equilibrar tanto o lado pessimista quanto o lado otimista, e já que ainda vamos sofrer um tempinho com essas epidemias, teremos de tomar nossos cuidados com repelentes e desmantelamento de criadouros, além de, principalmente, pressionar o poder público no sentido do combate ao Aedes Aegypti que ainda é um grande problema. Mesmo se tudo isso der certo, infelizmente ainda sofreremos um pouco até voltarmos a uma situação de normalidade no que se refere a tais doenças.
Raphael Sanz é jornalista do Correio da Cidadania
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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
“Ainda vamos sofrer bastante pelas décadas de abandono do combate ao Aedes Aegypti”
ESCRITO POR RAPHAEL SANZ, DA REDAÇÃO
Correio da cidadania
domingo, 21 de fevereiro de 2016
A revolução virá das arquibancadas
Juca Kfouri - UOL Esporte
20/02/2016
POR PEU ARAÚJO, http://www.vice.com/pt_br
Da coluna ‘VICE Sports’
Da coluna ‘VICE Sports’
FOTOS: FELIPE LAROZZA/VICE
Se você já foi a um estádio de futebol, provavelmente já presenciou o barulho e a energia agressiva das torcidas organizadas. Se você se informa sobre as arquibancadas pelos jornalões convencionais já se acostumou a criminalizá-las.
Se você já foi a um estádio de futebol, provavelmente já presenciou o barulho e a energia agressiva das torcidas organizadas. Se você se informa sobre as arquibancadas pelos jornalões convencionais já se acostumou a criminalizá-las.
Uma coisa que precisa ficar clara
para entender os parágrafos a seguir: as torcidas são muito mais
complexas do que esse maniqueísmo. Não, não é só um bando de bandidos
reunidos e também não é um bonde dos bonzinhos. “Se você vier aqui atrás
de briga, você vai encontrar meia dúzia de cabeça de bagre que tá atrás
da mesma coisa, mas a torcida é muito mais do que isso”, explica
Wildner Rocha, o Pulguinha, ex-presidente da torcida e liderança
histórica dos Gaviões.
Na última semana, muito tem se falado sobre a torcida do Corinthians.
Os protestos no Campeonato Paulista começaram na partida contra o
Capivariano, na quinta-feira (11). Faixas com mensagens como “Rede
Globo, o Corinthians não é seu quintal” e “Cadê a$ conta$ do e$tádio”
foram abertas no meio da arquibancada da Arena Corinthians e
repreendidas pela Polícia Militar, que se pauta numa cláusula
interpretativa do Estatuto do Torcedor:
Segundo o Art. 13-IX, é
proibido “portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros
sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou
xenófobo”. Parece que é proibido protestar pelas ruas e também nas
arquibancadas de São Paulo. Bom, até onde sabemos, ainda não é ofensivo
questionar a administração de um clube ou se mostrar contra uma emissora
da televisão.
Um dos representantes dos Gaviões nas reuniões com o Batalhão do
Choque antes das partidas, o diretor da torcida, Cristiano de Moraes
Souza, afirma que ninguém assumiu a autoria da repressão policial. “Eles
[os policiais] disseram que a ordem veio da Federação Paulista e do
próprio clube. Eu questionei o Corinthians sobre isso, e disseram que
não foi o clube. A Federação não se pronunciou. A gente vive assim: a
polícia fala que um mandou, vai lá e faz.”
No clássico contra o
São Paulo, também em Itaquera, no domingo (14), outras faixas foram
erguidas no meio dos Gaviões da Fiel: “CBF, FPF a vergonha do futebol”,
“Ingresso mais barato”, “Futebol refém da Rede Globo” e “Quem vai punir o
ladrão de merendas?”. As mensagens ganharam repercussão e o que era uma
questão urgente para os torcedores virou um protesto organizado e
consciente.
Nesta quinta-feira (18), depois da chuva torrencial do meio da tarde,
os Gaviões começaram a aparecer na quadra da torcida, no bairro do Bom
Retiro. com um objetivo simples: colar na frente da Federação Paulista e
fazer muito barulho.
Às 19h30, centenas de torcedores vestindo
preto e branco ocuparam um dos sentidos da Avenida Sérgio Tomás. Se
compararmos essa ação com uma manifestação do Movimento Passe Livre, por
exemplo, podemos ver uma evolução estratégica e uma energia muito mais
combativa. Você pode até pensar que são coisas muito distintas, porém,
se a torcida decide protestar por questões extracampo, qual a diferença?
Antes da saída da quadra, Fabricio Pouseu, um dos diretores, faz uma
espécie de preleção pedindo para que os torcedores não percam tempo com
torcedores adversários — nas imediações da FPF, há sedes de torcidas do
Palmeiras — e exigedisciplina no trajeto. “Vai ter polícia lá, mano.
Qualquer problema liga nóis. Vamo todo mundo junto, sem dispersar. Vão
ser 50 minutos gritando lá na porta.”
Uma salva de palmas marca o
início da marcha, que segue a passos rápidos e firmes, sempre muito bem
compactada. A bateria, muito bem tocada, dita o ritmo das músicas e todo
mundo canta, entre outros hinos, “Ladrão, devolve o futebol do povão” e
“Eu não roubo merenda, eu não sou deputado. Trabalho todo dia, não
roubo meu Estado.” Três bandeirões flamulam ininterruptamente.
A impressão que dá é a de que se tem muito mais gente. Os rojões,
atirados a todo tempo, deixam o clima mais bélico, assim como as caras
fechadas de boa parte dos torcedores. Sinalizadores com fumaça preta e
outras pirotecnias começam a aumentar à medida que o bonde se aproxima
da FPF. Nas imediações, duas viaturas da PM e alguns policiais do Choque
esperam os torcedores.
A massa se concentra em frente à porta
principal da instituição, e o primeiro rojão é atirado na janela do
último andar, mas logo é repreendido pela diretoria da torcida. Outros
de 12 tiros estouram no céu, além de muitos gritos contra a FPF, CBF,
Rede Globo e o inimigo número um das organizadas, Fernando Capez,
presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e Deputado
Estadual pelo PSDB. Todas as pautas são questionáveis. “Nós temos
propriedades pra questionar todas elas. Todas elas são de propriedade do
nosso associado, do torcedor, do cara que tá na arquibancada”, explica
Pulguinha.
As pautas são muitas e algumas vezes confusas, embora a maioria delas
deseje a melhoria do futebol e das torcidas, independentemente do time.
A
treta com a Rede Globo questiona o horário dos jogos de meio de semana.
Por causa da programação da emissora, as partidas começam às 22h e
acabam por volta de meia-noite. Nesse horário, muitos torcedores ficam
sem ter como voltar para casa ou demoram horas para realizar o trajeto.
“Jogo às dez horas da noite não dá mais. Isso não é uma briga só do
corinthiano, não é uma briga só dos Gaviões. Isso tem que ser uma briga
aberta, tem que ser uma briga de todas as torcidas do país. Pô, não dá
mais. O pessoal acorda às cinco horas da manhã. Você sai do jogo
meia-noite e não tem condução pra chegar em casa. Não tem mais condição
disso”, comenta Fabricio.
Contra a Federação Paulista de Futebol o conflito é em relação às
proibições de sinalizadores e bandeiras e ao valor do ingresso. Os
próximos dois jogos da equipe custarão mais de 100 reais no setor mais
“popular.”
Capez se entrincheirou contra as torcidas há mais de 20
anos. Em 1995 conseguiu extinguir a Torcida Independente, do São Paulo,
e a Mancha Verde, do Palmeiras. Ambas mudaram minimamente os nomes e
continuam ativas.
A bronca dos corinthianos, e de outros torcedores, é porque o deputado
pretendia, à época, punir as instituições por ações de indivíduos. “A
liderança da época quando falava que não podia se responsabilizar pelos
50, 60 mil sócios ele generalizava. Agora ele tem 10, 15 assessores, sei
lá, e ele não pode se responsabilizar?”, questiona o diretor dos
Gaviões Fabricio Pouseu em referência ao escândalo de desvio de dinheiro
das merendas escolares nas escolas estaduais em que o Capez é citado.
Procurado pela reportagem, o deputado se prestou apenas a mandar uma
nota oficial em que nega participação no caso de corrupção.
Ninguém deu as caras na FPF, que já estava com os portões fechados, mas,
por uma hora, gritos, bandeiras, faixas, rojões, sinalizadores chamavam
a atenção do prédio inerte. Apenas dois seguranças, imóveis,
acompanhavam o espetáculo do lado de dentro das grades, e enquanto menos
de uma dúzia de policiais do Choque com escudos fechavam a pequena rua,
provavelmente preocupados com o trânsito.
O protesto da torcida do Corinthians colocou sob holofote algumas
questões pertinentes para quem frequenta estádio e gosta do esporte, sem
clubismo. Esse levante é, além de tudo, um convite para que outras
organizadas se manifestem e questionem essas “verdades absolutas”,
podendo ser o início de algo muito maior. O futebol brasileiro está
afogado em corrupção e falcatrua há muitos anos e as arquibancadas
estavam em silêncio. Esse tempo acabou.
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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
PSOL participará, em Madri, da Conferência Plano B para Europa
Na foto ao lado, manifestação do movimento dos indignados 15-M na praça Puerta del Sol, em Madri
Nos próximos dias 19, 20 e 21 de fevereiro, será realizada em Madri,
na Espanha, a Conferência Europeia Anti-austeridade e por um Plano B
para Europa. Encabeçado pelo ex-ministro das finanças grego, Yanis
Varoufakis, o evento reunirá inúmeros políticos, organizações de
esquerda, intelectuais e ativistas, que também assinam a convocatória da
conferência. Dentre os nomes de peso se destacam a prefeita de
Barcelona, Ada Colau; a ex-presidenta do parlamento grego, Zoe
Konstantopoulou; o cineasta inglês Ken Loach (Pão e Rosas e Uma canção da para Carla),
intelectuais como Eric Toussaint, Tariq Ali, Michel Löwy, Michael
Husson, Noam Chomsky, Gilbert Achcar, entre tantos outros e outras.
Como parte de uma política internacionalista e com o objetivo de
estreitar laços entre a esquerda europeia e a latino-americana, o PSOL
enviará a Madri uma delegação composta pelos dirigentes Francisvaldo
Mendes e Pedro Fuentes, da Secretaria de Relações Internacionais do
partido. O objetivo da participação é acompanhar este importante momento
de articulação internacional da luta contra a austeridade e os
desmandos da Troika (formada pelo Banco Central Europeu, FMI e Comissão
Europeia).
Na carta, os organizadores afirmam que “o exemplo da Grécia nos
mostrou que para fazer frente à atual conjuntura devemos unir esforços
de todos os estados membros e a partir de todas as esferas: política,
intelectual e da sociedade civil. Nossa visão é solidária e
internacionalista. Por estes motivos queremos gerar um espaço de
confluência no qual todas as pessoas, movimentos e organizações que se
opõem ao modelo atual de União Europeia possam consensuar uma agenda
comum de objetivos, projetos e ações com o fim de romper com o regime de
austeridade da UE e democratizar radicalmente as instituições
europeias, colocando-as a serviço da cidadania”.
O secretário de Relações Internacionais do PSOL, Francisvaldo Mendes,
considera que o encontro em Madri será capaz de debater uma política de
combate ao atual modelo desumano de administração, com a perspectiva de
resgatar os direitos e a dignidade da maioria da população que hoje
é submetida aos interesses das elites financeiras. “O mundo vive uma
crise econômica, reflexo do capitalismo e da lógica da financeirização
da economia sob a égide dos bancos e do Capital monopolista. E essa
conferência terá o desafio de discutir alternativas a essa lógica. Uma
nova forma de administrar as cidades e os países deve ser pensada,
levando em consideração a maioria da população e não os interesses dos
bancos e do grande capital, que ceifa emprego e vida digna. O PSOL
aposta numa nova forma de organização social e acredita que é possível
obter um crescimento econômico com melhores condições de vida e quer
contribuir para que o Brasil possa estar inserido nesse debate de
enfrentamento ao capital financeiro”, pontua o dirigente nacional do
partido.
Abaixo, confira o manifesto de convocação e seus primeiros assinantes.
Um Plano B para Europa
Em julho de 2015 assistimos a um Golpe de Estado financeiro executado pela União Europeia e suas instituições contra o governo grego, condenando a população grega a seguir sofrendo as políticas de austeridade que já haviam rechaçado em duas ocasiões por meio das urnas. Esse golpe intensificou o debate sobre o poder das instituições da União Europeia, sua incompatibilidade com a democracia e seu papel de garantir os direitos básicos exigidos pelos europeus.
Em julho de 2015 assistimos a um Golpe de Estado financeiro executado pela União Europeia e suas instituições contra o governo grego, condenando a população grega a seguir sofrendo as políticas de austeridade que já haviam rechaçado em duas ocasiões por meio das urnas. Esse golpe intensificou o debate sobre o poder das instituições da União Europeia, sua incompatibilidade com a democracia e seu papel de garantir os direitos básicos exigidos pelos europeus.
Sabemos que existem alternativas à austeridade. Iniciativas como “Por
um Plano B na Europa”, “Austerexit”, o DiEM25 (Democracy in Europe
Movement 2025) denunciam a chantagem do terceiro memorando de
“entendimento” imposto à Grécia, o fracasso econômico que ele supõe,
além do caráter antidemocrático da UE. Reconhecido pelo próprio
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker que declarou: “Não
podem haver decisões democráticas contra os tratados europeus”.
Também somos testemunhas da resposta não solidária (em ocasiões até
xenófoba), das instituições europeias e dos estados membros frente à
chegada de refugiados procedentes do Oriente Médio e África e o drama
humano que isso acarreta. Remarcando a hipocrisia do discurso da UE a
respeito dos direitos humanos, que de forma indireta, através da venda
de armas o de políticas comerciais, é um ator-chave nos conflitos que
provocaram as recentes crises humanitárias.
O regime de crise da UE, baseado na austeridade e iniciado há oito
anos, privatiza os bens comuns e destrói os direitos sociais e
trabalhistas em vez de fazer frente às causas iniciais da crise: a
desregulação do sistema financeiro e a captura corporativa das
instituições da UE através dos grandes lobbies e das portas giratórias. A
UE promove soluções falsas negociando, com grande opacidade e sem
nenhum controle democrático, tratados de comércio e investimento como o
TTIP, o CETA e o TiSA, que eliminam o que consideravam barreiras ao
comércio: os direitos e normas que protegem a cidadania, aos
trabalhadores e ao meio ambiente. É o golpe definitivo a nossas
democracias e ao Estado de Direito, especialmente por meio dos
mecanismos de proteção ao investidor.
A UE atual é governada de fato por uma tecnocracia a serviço dos
interesses de uma pequena, mas poderosa, minoria de poderes econômicos e
financeiros. Tudo isso provocou o ressurgimento do discurso da extrema
direita e de posições xenófobas e nacionalistas em muitos países da
Europa. Os democratas têm a responsabilidade de reagir ante esta ameaça e
impedir que os fascismos capitalizem a dor e o descontentamento da
cidadania, a qual, apesar de tudo, tem demonstrado sua solidariedade
frente à tragédia humanitária que sofrem centenas de milhares de pessoas
refugiadas.
A sociedade está trabalhando por uma mudança radical nas políticas da
UE. Mobilizações sociais, como Blockupy, a campanha NÃO ao TTIP, o
Alter Summit, a greve geral europeia de 2012, as Euromarchas, o
prodigioso trabalho realizado por numerosas plataformas cidadãs e ONGs,
compõem um valioso capital humano, intelectual e ideológico pela defesa
dos direitos humanos, o respeito à terra e à dignidade das pessoas por
sobre os interesses políticos e econômicos. Acreditamos, entretanto, que
é necessária uma maior coordenação e cooperação prática para a
mobilização em nível europeu.
Há muitas propostas em marcha para acabar com a austeridade
Uma política fiscal justa e o encerramento de paraísos, sistemas de trocas complementares, a remunicipalização dos serviços públicos, a divisão igualitária de todos os trabalhos incluindo os cidadãos em regime de dignidade, a aposta em um modelo de produção baseado nas energias renováveis e reformar ou abolir o pacto fiscal europeu – formalmente Tratado de Estabilidade, Coordenação e Governança na União Econômica e Monetária.
Uma política fiscal justa e o encerramento de paraísos, sistemas de trocas complementares, a remunicipalização dos serviços públicos, a divisão igualitária de todos os trabalhos incluindo os cidadãos em regime de dignidade, a aposta em um modelo de produção baseado nas energias renováveis e reformar ou abolir o pacto fiscal europeu – formalmente Tratado de Estabilidade, Coordenação e Governança na União Econômica e Monetária.
O exemplo da Grécia nos mostrou que para fazer frente à atual
conjuntura devemos unir esforços de todos os estados membros e a partir
de todas as esferas: política, intelectual e da sociedade civil. Nossa
visão é solidária e internacionalista.
Por estes motivos queremos gerar um espaço de confluência no qual
todas as pessoas, movimentos e organizações que se opõem ao modelo atual
de União Europeia possam consensuar uma agenda comum de objetivos,
projetos e ações com o fim de romper com o regime de austeridade da UE e
democratizar radicalmente as instituições europeias, colocando-as a
serviço da cidadania.
Para isso, propomos convocar uma conferência europeia nos dias 19, 20
e 21 de fevereiro em Madri e chamamos publicamente a participar nos
debates, grupos de trabalho e exposições que lá se organizarão.
Primeiras assinaturas:Lola Sánchez – Eurodiputada, Podemos
Miguel Urbán – Eurodiputado, Podemos
Marina Albiol – Eurodiputada, Izquierda Plural
Javier Couso – Eurodiputado, Izquierda Plural
Susan George – Presidenta del Transnational Institute
Yanis Varoufakis – Economista, ex-Ministro de Finanzas griego
Ada Colau – Alcaldesa de Barcelona
Eric Toussaint – Portavoz CADTM
Zoe Konstantopoulou – Abogada, ex-Presidenta del Parlamento griego
Catherine Samary – Économiste altermondialiste, France
Ken Loach – Film director, UK
Mariana Mortagua – Diputada Parlamento de Portugal
Noam Chomsky – Lingüista, Filósofo y Activista, USA
Alexandra Strickner – Presidenta de ATTAC Austria
Alberto Garzón – Diputado de IU – Unidad Popular
Alberto Montero – Diputado de Podemos
Adoración Guamán – Profesora de derecho del trabajo. Universitat de València, miembro del consejo científico de Attac
Alda Sousa – Ex-députée européenne, Bloco de Esquerda, Portugal
Alexandra Fernandez – Diputada al Congreso por la Marea
Alexis Cukier Philosophe – Fondation Copernic, France
Alfred de Zayas – Relator Independiente de la ONU para DD.HH
Ana Benavente – Sociologue, IAC, Portugal
Andrej Hunko – Diputado Die Linke al Bundestag
Andy Storey – University College Dublin
Angela Wigger – Associate Professor, Radboud University, The Netherlands
Anna Gabriel – Diputada/o autonomico de las CUP
Antonio Baylos – Catedrático de Derecho del Trabajo. Universidad de Castilla la Mancha.
Antonio Sanabria – Profesor de economía de la Universidad Complutense
Antonis Ntavanelos – DEA – consejo político de unidad popular
Beatriz Talegon – Abogada, ex-Secretaria General de la Unión Internacional de Jóvenes Socialistas
Bibiana Medialdea – Profesora de Economía de la UCM
Bodo Ellmers – Eurodad, Brussels
Bruno Bosteels – Cornell University
Carlos Sanchez Mato – Concejal de Economía y Hacienda de Madrid
Carmen San José – Diputada Podemos CAM
Cédric Durand – Economista, Centre d’Economie de l’Université Paris-Nord-École des Hautes Études en Sciences Sociales, EHESS
Céline CAUDRON – Militante féministe (Belgique)
Cem Oyvat – Lecturer, University of Greenwich
Chris Hedges Pulitzer Prize – Journalism
Christina Laskaridis – Miembro del Comité de la Verdad de la Deuda Griega
Christine Pagnoulle – President of ATTAC Liége
Christine Vandendaelen – Féministe, membre du secrétariat international du CADTM et CADTM Belgique
Corine Gobin – Politologue á lÚLB, Belgium
Costas Lapavitsas – Profesor de Economía en SOAS, Londres
Creston Davis Founder – Director &Professor of Philosophy, The Global Center For Advanced Studies, GCAS
Daniel Munevar – Asesor Yanis Varoufakis y Miembro CADTM
Daniel PIRON – Ancien secrétaire interprofessionnel de la FGTB-Charleroi-Sud Hainaut (Belgique)
Daniel Tanuro – Ecosocialist Network
David Fernández – Diputada/o autonomico de las CUP
David Wagner – Député – déi Lénk, Luxembourg
Dimitris Sotiropoulos – Open University, UK
Eduardo Garzón – Economista
Ernest Urtasun – Eurodiputado de ICV, Grupo de Los Verdes/ALE
Eugénia Pires – Economist, Portugal
Fabio di Masi – Member of the Euro Parliament, Die Linke
Fátima Martín – Periodista y Miembro de la PACD
Fernando Luengo – Profesor de Economía Aplicada de la UCM y CCA de Madrid de Podemos
Florent Marcellesi – Portavoz de EQUO en el Parlamento Europeo , Grupo de Los Verdes
Francisco Louçã – Bloco de Esquerda, Portugal
Freddy MATHIEU – Ancien secrétaire interprofessionnel de la FGTB Mons-Borinage (Belgique)
Gerardo Pisarello – Primer Teniente de Alcalde Barcelona
Gilbert Achcar – Professeur, SOAS, Université de Londres
Gilbert Lieben – General Secretary CGSP Wallonne, Trade Union
Gustave Massiah – Membre Fondateur de IPAM France
Heikki Patomäki – Professor of World Politics, University of Helsinki, Member of Board Vasemmistoliitto -Vänsterförbundet – The Left Alliance
Hilary Wainwright – Co-editor Red Pepper and Fellow of Transnational Institute, UK
Hugo Braun – Attac Germany
Huáscar Sologuren – PACD Madrid
Ioanna Gaitani – Ex diputada de Syriza-Red Network
Isabel Serra – Diputada Podemos CAM, Anticapitalistas
Jaime Pastor – Polítólogo y Editor de la revista Viento Sur
James Petras Bartle – Professor Emeritus, Binghamton University
Jean-François Pellissier – Portavoz de Ensemble
Jean-Francois Ramquet – General Secretary FGTB Liege, Trade Union
Jérôme Duval – Miembro PACD y CADTM
Joana Mortágua – Economista, Diputada del Parlamento del Portugal
Joao Camargo – Precários Inflexíveis, Portugal
John Hillary – Director de War on Want, UK
John Weeks – Professor Emeritus, SOAS, University of London
Jonathan Stevenson – Jubilee Debt Campaign
Jordi Sebastiá – Eurodiputado por Compromís, Grupo de Los Verdes
Jose María González (Kichi) – Alcalde de Cádiz
Jose Máría González Suarez – Presidente de la Fundación por una Europa de los Ciudadanos
Josep Manel Busqueta – Ex-Diputado autonómico de la CUP
Josep María Terricabras – Eurodiputado Grupo Los Verdes
Juan Torres – Catedrático de Teoría Económica y Economía Política. Universidad de Sevilla
Justa Montero – Activista feminista y miembro de la Asamblea Feminista
Katerina Sergidou – Red Network
Kenneth Haar – Corporate Europe Observatory, Denmark
Lídia Senra Rodríguez – Diputada por Alternativa Galega de Ezquerda (Galiza) no Parlamento Europeo
Lina Gálvez – Catedrática de Historia e Instituciones Económica. Universidad Pablo de Olavide
Lourdes Benería – Profesora Emerita Dpto. Planificación Urbana y Reginal Cornell University
Ludovica Rogers – Member of Debt Resistance UK
Luís Fazenda – Bloco de Esquerda, Portugal
Luka Mesec – Leader of Parliamentary Group of Zdruzena Levica, (United Left), Slovenia
Luke Cooper – Another Europe is Possible, UK
Malin Björk – Eurodiputada Partido de Izquierda, Grupo GUE/NGL – Suecia
Mamadou Ba – Bloco d´Esquerda
Manolo Garí – Economista, Anticapitalistas
Manolo Monereo – Doctor en Ciencias Políticas y licenciado en Derecho
Maria Bolari – Ex diputada de Syriza-Red Network
Maria Lucia Fatorelli – National Coordinator of Citizen Debt Audit Brazil
Marga Ferré – Ejecutiva IU
Mauricio Valiente – Concejal Ahora Madrid
Mehmet Ugur – Professor in Economics and Institutions, International Business and Economics, University or Greenwich
Michael Hardt – Duke University
Michael Hudson – ISLET: Institute for the Study of Long-Term Economic Trends, USA
Michael Lowy – Reseau Ecosocialiste International, France
Miguel López – SKP-Finlandia
Michel Husson – Économiste, membre de la commission pour la vérité sur la dette grecque (France)
Miska Seppaelae – Vasemmistoliitto -Vänsterförbundet – The Left Alliance
Moisis Litsis – Journalist, Greek Committee Against Debt, CADTM
Mónica Oltra Compromís – Vicepresidenta de la Generalitat Valenciana
Montserrat Galcerán – Catedrática emérita de filosofía, Concejala de Ahora Madrid
Myriam Martin – Portavoz de Ensemble y Diputada Regional
Myriam Vander Stichele – (TNI/SOMO) The Netherlands SOMO es Center for Research on Multinational Corporations
Nacho Álvarez – Secretario de Economía de Podemos
Natalia Munevar – Plataforma Auditoría Ciudadana de la Deuda – PACD
Nick Dearden – Director de Global Justice UK
Nikolaos Chountis – Eurodiputado Unidad Popular (Grecia)
Olivier Besancenot – Ex-candidato a las presidenciales del NPA, Francia
Ozlem Onaran – Professor of Economics and Director of Greenwich Political Economy Research Center, University or Greenwich
Pablo Carmona – Concejal Ahora Madrid
Pablo Echenique – Secretario General de Podemos Aragón y diputado en el Parlamento autonómico
Patrick Saurin – Portavoz del Sindicato Sud del Banco BPCE, Francia.Miembro del Comité de la Verdad sobre la Deuda Griega
Paul Murphy – Irish Socialist Party. Anti-Austerity Alliance Dublin, Ireland
Pauline FORGES – Enseignante, déléguée syndicale, membre de la LCR-SAP (Belgique)
Pedro Santisteve- Alcalde de Zaragoza
Penelope Duggan – Editor International Viewpoint, UK-France
Peter VELTMANS – Syndikalist ACOD Financiën, lid van de SAP-LCR (Belgium)
Philippe Marlière – Profesor de política europea en University College, London
Pierre Galand – Président du Forum Nord Sud, Belgique
Pierre Khala – Coprésident de la Fondation Copernic, France
Pierre Vanek Député – Membre de Solidarités, Suisse
Quim Arrufat – Diputada/o autonomico de las CUP
Rastko Mocnik – Sociologist, Ljubljana, Belgrade
Rafael Escudero – Profesor de filosofía del derecho. Universidad Carlos III de Madrid.
Raúl Camargo – Diputado Podemos CAM, Anticapitalistas
Richard Wolff – The New School
Rommy Arce – Concejala Ahora Madrid
Rui Viana Pereira – Membro de CADPP, Portugal
Ruth Rubio Marín – Professor of Constitutional and Public Comparative Law European University Institute
Sebastían Martín – Profesor de Historia del Derecho. Universidad de Sevilla
Sergi Cutillas – PACD, Miembro Comité de la Verdad sobre la Deuda Griega
Sofia Sakorafa – Member of the Euro Parliament, Greece
Sol Sanchez – Diputada IU-UP en el Congreso
Sonia Farré – PACD, En Comú Podem
Sonia Mitralia – Membre du CADTM et de l’Initiative “Femmes contre la dette et les mesures d’austerité”
Soren Sondergaard – MP for the Red-Green Alliance, Denmark
Srecko Horvat – Croatia – UK
Stanislas Jourdan – Mediaactivist, Basic Income, Quantitative Easing
Stathis Kouvelakis – Profesor en Kings College, Londres
Stavros Tombazos – Professeur d’économie politique, Université de Chypre
Stefan Zgliczynski – Editor of le Monde Diplomatique, Poland
Tariq Ali – New Left Review
Teresa Rodriguez – Secretaria General de Podemos y Diputada en Andalucía
Thomas WEYTS – SAP-LCR ,Belgique
Xabier Benito – Eurodiputado Podemos
Xabi Domenech – Diputado en el congeso por En Comu Podem
Tom Kucharz – Miembro de Ecologistas en Acción, Spain
Vicenç Navarro – Catedrático de Ciencias Políticas y Sociales, Universidad Pompeu Fabra
Yago Álvarez – PACD Madrid
Yayo Herrero – Ecologistas en Acción
Yorgos Mitralias – Promoteur “Manifeste Antifasciste Europeen”
Zbigniew Marcin Kowalewski – Chercheur et Editeur, Pologne
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016
‘Ajuste fiscal e reforma da Previdência começaram pelas desonerações tributárias’, afirma pesquisadora da UFRJ no Senado
Intersindical Central da classe Trabalhadora marca presença em audiência pública no Senado que discutiu a reforma da Previdência
Em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa no Senado, realizada quinta-feira (4), a professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Lobato Gentil, expôs não apenas o que a esquerda já sabe há tempos – que a Previdência Social é superavitária – como também que as desonerações tributárias concedidas durante o governo Dilma ao grande capital privado marcaram de fato o início do ajuste fiscal e estão criando os alicerces para a promoção da reforma da Previdência.
Para se ter ideia, em 2014 foram R$ 253,9 bilhões que deixaram de ser arrecadados em favor de empresas privadas . Em 2015 foram R$ 282 bilhões e em 2016 a previsão é a de que o governo abra mão de R$ 271 bilhões em favor do capital privado, quase 5% do PIB. É mais do que o governo gasta com programas sociais, saúde, educação, ciência e tecnologia.
Não é razoável que o governo abra mão desse montante de receitas e não tendo funcionado para conter a crise, agora ainda proponha o corte de gastos. É quase intencional para provocar a reforma da Previdência”, afirmou Lobato.
“Não há nada de errado com a Previdência e sim com o modelo econômico do governo. É a política recessiva caótica que gera esse pesadelo para os trabalhadores. Porque apesar de tudo isso a Previdência continua gerando superávit”, afirma a professora da UFRJ.
Em 2013 o superávit da Previdência foi de R$ 67 bilhões e em 2014 de R$ 35 bilhões. “As receitas superam o total de gastos da seguridade social, incluindo bolsa família e a área da saúde , como o SUS, e incluindo o custeio dos ministérios da Saúde e da Previdência. Todo esse complexo sistêmico que forma a seguridade social ainda tem um gasto que ainda é inferior à arrecadação”, garante a pesquisadora.
A queda brutal do superávit da seguridade social está ocorrendo porque depende de variáveis do nível de desempenho da economia, massa de salários. E o cálculo preliminar se superávit para 2015, segundo ela, é de R$ 16 bilhões.
“O governo desonerou a folha de pagamentos e deveria ter feito o repasse para a Previdência, mas não fez, se o fizesse o superávit aumentaria em R$ 12 bilhões. E apesar das desonerações com Cofins, CSLL e PIS-Pasep”, afirma Lobato.
O dirigente da Intersindical Central da Classe Trabalhadora e militante do Coletivo Bancários na Luta, Edilson Montrose, trouxe expressiva contribuição para o debate ao enfatizar para os senadores presentes sobre a “sacralização da dívida pública”, prevista no artigo 166 da Constituição Federal. “Lá está previsto que não cabe ao Congresso ter opinião sobre as rubricas orçamentárias da dívida pública, essa é uma das premissas do neoliberalismo no mundo”.
Além disso, Montrose lembrou da intenção do governo de aumentar de 20% para 30% a DRU (Desvinculação de Receitas da União), ou seja, abrindo espaço no orçamento para retirar o dinheiro de áreas sociais para outras áreas, caso do pagamento dos juros da dívida pública.
E questionou a autonomia do Banco Central na decisão sobre a taxa de juros. “Dar autonomia operacional ou independência do Banco Central é uma perversidade contra a própria democracia”, afirmou.
“Atacar a Previdência é atacar a dignidade humana na plena acepção do termo. É descartar todo aquele trabalhador e trabalhadora que durante anos a fio labutou ou fez a riqueza do país e você o descarta quando ele mais precisa, a Previdência é o primeiro direito social e político do Estado”, finalizou o representante da Intersindical.
Assista à intervenção de Edilson Montrose, representante da Intersindical na audiência:
terça-feira, 9 de fevereiro de 2016
Até quando a esquerda vai pagar por erros do lulismo?
Por: Correio da Cidadania
Escrito por Hamilton Octávio de Souza
Escrito por Hamilton Octávio de Souza
É preciso ter bem claro que a fragilização do governo
Dilma Rousseff e de lideranças do PT atinge duramente todo o campo da
esquerda brasileira, desde os que ainda defendem políticas de alianças
com o empresariado, com setores conservadores e com as velhas
oligarquias regionais, até os que se encontram na luta contra a direita,
contra o neoliberalismo e na oposição ao lulismo desde os anos 1990 e
mais recentemente. Todos, sem exceção, estamos pagando muito caro por
desvios, erros, rendições e concessões políticas e éticas dos governos
petistas e das forças de esquerda que lhes deram sustentação desde a
campanha eleitoral de 2002.
O preço está sendo o alijamento da esquerda da vida
institucional e do debate nacional nas universidades, na mídia, nos
centros de formação política e até mesmo nos movimentos sociais
populares e no seio das classes trabalhadoras, inclusive no operariado.
Não seremos totalmente banidos, mas estamos com enorme dificuldade de
encontrar espaços receptivos e de defender propostas de transformação
social sem ter de ficar na explicação defensiva do desastrado caminho
adotado pelo PT, que nada tem a ver com o projeto original do partido
concebido nas lutas contra a ditadura e no potencial revolucionário dos
trabalhadores nos anos 1970 e 1980.
Estamos enfrentando um período de forte bombardeio
ideológico contra as esquerdas, um verdadeiro massacre na imprensa
burguesa, que é agravado pelo desalento refratário da juventude, a falta
de perspectiva na participação militante, o apagamento intelectual dos
mais antigos e solidários lutadores – enfim, estamos acuados e isolados
para levantar e fazer avançar com força as verdadeiras bandeiras da
esquerda na luta histórica contra a barbárie do capitalismo. O discurso
da esquerda tem caído no vazio, enfrenta resistências de toda ordem, é
visto com desconfiança e não consegue transpor a muralha passional que a
direita construiu em torno do lulismo e do petismo.
Evidentemente não são os simpatizantes e militantes das
ideias de esquerda os únicos a pagarem pelo desastre da aventura
lulista: a maioria do povo, especialmente os trabalhadores e os mais
pobres sofrem cada vez mais com o peso do programa neoliberal
radicalizado e o avanço das velhas forças conservadoras e de direita;
todos sentimos a ausência de aliados democratas, de vozes e de
organizações políticas e sociais comprometidas com as lutas por um mundo
justo e igualitário. Temos muita dificuldade em encontrar as bases e os
caminhos para retomar o fio da meada e definir rumos minimamente
consensuais.
A agonia do lulismo, conduzida por suas maiores
lideranças desde os atalhos e as opções feitas em 2002, transfere
efetivamente para as hordas de bárbaros os louros da vitória final e a
consagração da conquista absoluta, que até o momento foram contidos
porque nominalmente o governo federal carrega junto com a marca petista
um amplo leque de alianças e interesses variados. Mesmo sem a menor
condição de impor políticas e rumos próprios, o PT mantém o cetro
simbólico do poder, que tende a derreter não apenas pela ausência de
respaldo social, mas também pelos vários ordenamentos jurídicos que
permitem aos advogados da legalidade liberal-burguesa contestar a
legitimidade do governo.
Assalto final
Independente de se chegar à fórmula do afastamento
presidencial, via Congresso Nacional e eventualmente em algum tribunal,
nada impedirá o assalto final das forças do atraso, se não agora muito
provavelmente em 2018. Não há no horizonte do poder público, neste
momento, nada que expresse ou sinalize algum avanço político, econômico e
social. Ao contrário, as forças que estão à espreita significam apenas e
tão somente maior retrocesso político e maior aprofundamento no modelo
neoliberal, que não tem o menor pudor de extrair sangue numa nação
raquítica e esgotada pela rapinagem. Por acaso o sistema dominante fixou
algum limite de sacrifício para os trabalhadores?
As forças de esquerda que se posicionam e se movimentam
contra o lulismo e contra a esdrúxula composição do governo Dilma
Rousseff fazem um esforço incrível para ganhar cada vez mais inserção
nas classes trabalhadoras e nos setores populares, mas estão muito longe
de disputar com a direita e o conservadorismo a sucessão federal e o
comando do país. Mesmo porque as forças de esquerda sofrem terrivelmente
igual processo de desgaste que atinge o PT e o lulismo, apesar de todas
as diferenças – e são muitas – de propostas e de compromissos políticos
e éticos.
O que vem depois do governo Dilma Rousseff será, com
certeza, do ponto de vista do povo trabalhador, a continuidade das
políticas neoliberais, além do acirramento da caça às bruxas, das
perseguições de toda ordem, das restrições e discriminações não apenas
na esfera da política, mas na esfera dos serviços públicos, da saúde e
da educação, da cultura e do comportamento. O programa econômico
anunciado pela oposição de direita prevê nada menos do que a
privatização de quase tudo, inclusive dos bancos públicos e das redes de
ensino e de saúde. É o fim de festa do longo domínio dos mercados desde
o marco do Consenso de Washington, em 1989.
De outro lado, positivamente, quanto mais cedo
conseguirmos nos livrar do legado do lulismo e da catarse obrigatória
desse período simbolizado na Carta ao Povo Brasileiro, mais cedo teremos
condições reais de escaparmos da geleia geral dessa política de
conciliação de classes aprofundada pelas lideranças do PT; e mais cedo
poderemos rearticular todo o campo progressista e de esquerda com a
confiabilidade dos trabalhadores e do povo – condição essencial para a
retomada das lutas e coquistas necessárias a um Brasil justo e
igualitário. A direita sabe muito bem que ao jogar os holofotes sobre o
lulopetismo chafurdado na lama atinge em cheio o amplo campo da esquerda
brasileira – que não se confunde nem com o lulismo nem com o PT.
Força e credibilidade
A esquerda brasileira só conseguirá ressurgir com força e
credibilidade social, com programas de transformação, com respaldo dos
trabalhadores, quando os fantasmas do lulismo estiverem exorcizados,
quando tivermos encerrado esse período de desagregação da nossa história
política. Precisamos ter claro que em nome das forças progressistas e
das esquerdas o lulismo e o petismo cometeram as maiores barbaridades,
desde a política de alianças contrária ao programa partidário, o apoio
ao projeto neoliberal, até o uso de métodos imorais historicamente
execráveis pelas esquerdas. Precisamos ter claro que o oportunismo
lulista e o credo petista de buscar a “governabilidade” a qualquer preço
fomentaram as forças do conservadorismo e da direita dentro e fora de
seu arco de alianças espúrias.
Todo petista honesto, ao esbravejar contra a direita e o
conservadorismo, deveria primeiro se perguntar “por que a direita e o
conservadorismo aumentaram e ganharam força social justamente no período
de governos do PT?”. Ou “por que os governos do PT não realizaram o
necessário trabalho de formação e de conquista política da maioria da
população?”. Ou ainda “por que os governos do PT sempre fizeram alianças
à direita e combateram duramente as forças de esquerda e os movimentos
dos trabalhadores?”.
Com certeza, depois de uma boa autocrítica o petista
honesto só pode admitir que chegou a hora, sim, de virar a página da
história, deixar de lado o que não deu certo e partir para a construção
de algo novo junto com os trabalhadores e com o povo brasileiro.
A luta exige clareza nos objetivos, nas alianças e nos
métodos para o enfrentamento das classes dominantes, da direita política
e econômica e do conservadorismo dos valores. Não queremos retrocesso.
Ao contrário, queremos avançar na conquista de direitos das classes
trabalhadoras e do povo pobre explorado e oprimido. Queremos uma
sociedade livre, democrática, justa e igualitária. A nossa resistência
precisa ganhar as ruas e todos os espaços de luta política. É preciso
trocar a crença dogmática do lulismo por um novo instrumental de
organização social, baseado nos fatos concretos e na capacidade humana
de mudar a realidade. Que a gente consiga fazer isso o quanto antes!
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