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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

“A 14 de novembro realizar-se-á a primeira Greve Geral ibérica da história”

Postado: ESQUERDA.NET

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O Comité da UGT e o Conselho da CC OO aprovaram formalmente a convocatória de uma Greve Geral para 14 de novembro. Durante a tarde, e segundo noticia o El Pais, os representantes das duas estruturas sindicais levaram a sua decisão à Cimeira Social, movimento reivindicativo que reúne cerca de 150 organizações. Além de Espanha e Portugal, também Chipre, Grécia e Malta deverão aderir ao protesto.
Antes do começo das votações, que resultaram na aprovação, por unanimidade, da convocatória de uma Greve Geral para dia 14 de novembro, Toni Ferrer, secretário da Ação sindical de UGT, defendeu que “existem motivos mais do que justificados” para avançar para o protesto.

Fernando Lezcano, secretário da Comunicação da CC OO afirmou, por sua vez, que “esta é uma Greve Geral contra as políticas de austeridade que demonstraram ser um fracasso”. “Temos mais desemprego, os nossos jovens foram abandonados à sua sorte, temos mais pobreza, desmantela-se a educação e a saúde e não há nenhuma perspetiva de recuperar a situação económica”, sublinhou.

Conforme adianta o El País, esta será a primeira vez em democracia que se realizam duas Greves Gerais num só ano em Espanha e que se realiza mais do que uma Greve Geral contra as políticas do mesmo governo. Será ainda a primeira vez que decorre uma paralisação total durante uma campanha eleitoral, neste caso, na Catalunha.

Jornada europeia contra a atual situação económica e social

A Greve Geral agendada em Espanha enquadra-se na “jornada de ação" europeia contra a atual situação económica e social anunciada esta quinta feira pela Confederação Europeia de Sindicatos (CES).

A convocatória, formalizada durante uma reunião que teve lugar em Bruxelas e que contou com a participação do secretário geral da CC OO e atual presidente da CES, Ignacio Fernández Toxo, e do secretário-geral da UGT, Cándido Méndez, prevê a realização de greves, manifestações e comícios nos países que aderiram à jornada de luta. “Com elas mostrar-se-á o forte desagrado às medidas de austeridade que estão a condenar a Europa à estagnação económica e também contra o contínuo desmantelamento do modelo social europeu”, justifica a CES em comunicado.

Malta, Itália, Chipre e Grécia deverão aderir à Greve Geral de 14 de novembro

O secretário da Comunicação da CC OO mostrou-se esperançado que mais países do sul da Europa venham a aderir ao protesto - provavelmente Chipre, Malta e Grécia - e convoquem Greves Gerais próprias. Segundo avança o El País, também é possível que se realizem grandes manifestações em países como Itália, França ou Bélgica.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

França: Centrais sindicais convocam jornada de luta a 14 de novembro

Postado:ESQUERDA.NET

 

france_6Manifestação sindical em França. Foto de marsupilami92

Cinco centrais sindicais, entre as quais a CGT e a CFDT, convocam manifestações para o mesmo dia das greves gerais ibérica e da Grécia, afirmando que a austeridade agrava os desequilíbrios e cria injustiças.

A CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), a CGT (Confederação Geral do Trabalho), a FSU (Federação Sindical Unitária), a (união sindical) Solidaires e a Unsa (União Nacional de Sindicatos Autónomos), divulgaram um comunicado conjunto anunciando a sua participação na jornada europeia de luta contra a austeridade e pelo emprego no próximo dia 14 de novembro.

Nesse mesmo dia estão já convocadas greves gerais em Portugal, no Estado espanhol, na Grécia e aguardam-se decisões em países como Chipre, Malta e Itália.

As cinco organizações sindicais francesas reafirmam a sua “firme oposição às medidas de austeridade que fazem mergulhar a Europa na estagnação económica, ou na recessão”. O comunicado afirma que as medidas, longe de restabelecerem a confiança, nada mais fazem que agravar os desequilíbrios e criar as injustiças.

As centrais alertam que o desemprego não para de crescer em França, a precariedade cresce e os planos de despedimentos multiplicam-se. Há 11 milhões de pessoas atingidas pela exclusão ou a pobreza, entre os quais muitos reformados.

O comunicado alerta também para o tratamento de choque dado à Grécia, Espanha e Portugal, que mostram que as políticas de austeridade levam “à destruição de direitos sociais”, o que põe em causa a coesão social e os valores garantidos pela Carta dos direitos fundamentais, criando uma situação que “ameaça a própria construção europeia”.

O comunicado adianta propostas como uma verdadeira coordenação de políticas económicas e de medidas de solidariedade concretas, a negociação de um “contrato social” a nível europeu, e medidas de relançamento europeu.

O comunicado conclui apelando às manifestações nas modalidades que permitam que sejam as mais amplas.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Indignados não se intimidam com repressão e voltam às ruas

Postado: Carta maior

Fotos: Naira Hofmeister

Indignados não se intimidam com repressão e voltam às ruas

Coação policial, processos na Justiça e até acusação de espionagem vinculada ao ETA não impedem que milhares protestem em frente ao Congresso da Espanha contra a proposta de orçamento do governo, que vai aumentar em 34% os gastos destinados ao pagamento da dívida. A reportagem é de Naira Hofmeister e Guilherme Kolling, direto de Madri.
Naira Hofmeister e Guilherme Kolling, de Madrid
Madri - “A voz do povo/ Não é ilegal!” As palavras de ordem do protesto dos Indignados da Espanha neste sábado contra a proposta de orçamento do governo para 2013 deixaram evidente o desconforto dos manifestantes com a intimidação que vem sofrendo do poder público.

Nessa semana uma denúncia publicada no jornal El Mundo deu conta de que a polícia investiga a ligação do movimento popular que pede uma nova Constituição com o ETA, grupo separatista do País Basco que cometeu diversos atentados nas últimas décadas.

Foi o auge de uma ofensiva para criminalizar esses coletivos que lutam pela mudança no sistema político espanhol - a polícia pratica regularmente a identificação de integrantes em reuniões e protestos, partindo do pressuposto de que estariam cometendo um delito, reprime com violência manifestantes e o governo abre processos judiciais contra lideranças.

A delegada da administração de Madri, Cristina Cifuentes, chegou a declarar que as ações populares previstas para essa semana eram ilegais - anteriormente, comparou a convocação do “Ocupa o Congresso” à tentativa de golpe militar do início dos anos 80.

Mesmo assim, milhares voltaram às ruas na semana em que o Parlamento Nacional começou a discutir o projeto do orçamento de 2013 enviado ao Legislativo. “Cifuentes! Cifuentes!/ Não somos delinquentes!”, provocavam os ativistas, que exibiam faixas com dizeres como “A ditadura não estava morta?”

O conteúdo principal da marcha deste sábado que percorreu a avenida Gran Vía, no Centro de Madri, e que terminou com mais uma concentração em frente ao Congresso, foi questionar os números propostos pela gestão do conservador Mariano Rajoy para 2013.

Nas contas públicas apresentadas ao Parlamento, o gasto destinado ao pagamento da dívida aumentará em 34%. O débito da Espanha poderá alcançar 90,5% do PIB do país no ano que vem, tendo em vista que o passivo aumentará com o resgate para salvar os bancos.

Enquanto isso, os valores destinados para a saúde terão uma redução de 22,6%, conforme calculou o jornal El País. Oficialmente, o governo considera que serão apenas 3,1% a menos nesse item, porém o diário espanhol afirma que nesse cálculo estão incluídas despesas com a seguridade social e obrigações de exercícios anteriores.

A educação perderá 14% de sua verba, enquanto que a cultura terá que se virar com uma redução de 19% em relação a 2012. “O projeto de orçamento para 2013 referenda as irracionalidades e injustiças na organização e distribuição de recursos públicos e reafirma que a maioria da população pagará a dívida, cuja origem é 80% privada e foi transformada em pública mediante o resgate aos bancos”, critica o manifesto que convocou a população para rodear o Congresso mais vez - a primeira foi dia 25 de setembro.

Além de criticar a previsão orçamentária para o próximo ano, a intenção do ato foi demonstrar que os cidadãos não estão satisfeitos com a representação política atual, inclusive os parlamentares eleitos nas urnas que, segundo o texto, realizam um “simulacro de debate democrático”, já que não escutam as queixas que chegam das ruas diariamente.

O movimento popular que defende a abertura um processo constituinte organizou diversos atos públicos ao longo da semana. O primeiro aconteceu na terça-feira, 23, em frente ao Parlamento em Madri para marcar a entrada em pauta do projeto do orçamento. O lema foi “Não devemos!, não pagamos!”. Dois dias depois ocorreram ações descentralizadas para questionar os princípios que regem as contas públicas - uma das atividades foi em frente a sede do Bankia. E, neste sábado, houve ações em todo o país.

Uma pesquisa do instituto Metroscopia divulgada no início de outubro, mostrou que 77% dos espanhóis apoiam a pressão aos deputados, enquanto 93%, estão de acordo com mudanças na Constituição.

Mesmo assim, o texto orçamentário proposto pelo governo do PP deve ser aprovado no Legislativo com poucas mudanças, tendo em vista que o partido de Mariano Rajoy tem maioria na casa.

Método de luta provoca racha entre constitucionalistas
Os dois principais coletivos que defendem a discussão pública e democrática de uma nova Carta Magna na Espanha participaram das manifestações contra a proposta de gastos do governo central para 2013. Entretanto, o conteúdo dos protestos gerou uma ruptura entre os principais grupos: a Coordenadora 25-S e a Plataforma Em Pé.

A primeira, que responde oficialmente pela organização das ações de questionamento do poder estabelecido (o nome é referência ao 25 de setembro, data do primeiro protesto em frente ao Parlamento), pediu aos participantes que levassem suas “emendas” ao projeto do orçamento.

“Vamos 'empapelar' o Congresso”, era a chamada da Coordenadora 25-S, que se concretizou em centenas de cartazes afixados na grades de isolamento instaladas pela polícia em torno do quarteirão onde fica a casa legislativa, em pleno centro turístico de Madri.

A Plataforma Em Pé, que foi a pioneira em pedir uma “democracia real” e cujo manifesto de “fundação” pode ser considerado o marco teórico para as ações que hoje são levadas a cabo pela Coordenadora 25-S, discorda que a melhor maneira de mostrar a insatisfação pública seja tentar “reformar o orçamento”, o que significaria, de alguma maneira, aceitar o sistema atual.

Segundo um manifesto do coletivo publicado na internet junto com uma imagem de uma criança mostrando o dedo médio para a câmera, a única saída possível é a revolução, que deveria iniciar com a destituição do Parlamento. “A ideia original do 'Ocupa o Congresso' não era obter apenas manifestações estéreis de espírito reformista”, ataca o texto.

Embora discordasse do conteúdo, a Plataforma Em Pé referendou e participou dos protestos – e seguirá secundando todas as “ações contra o poder que nos submete cada dia mais a perdas de direitos e liberdades”.

Talvez por isso os protestos na rua desta semana tiveram menos gente do que os de setembro – a repressão policial e as distintas convocações para atos ao longo de uma semana são outros fatores que podem ter concorrido para a adesão menor de participantes.

Suicídio de homem que perdeu a casa eleva cobrança a banqueiros
O suicídio de um morador da cidade de Granada diante do iminente despejo por falta de pagamento da hipoteca de sua residência elevou o tom da cobrança a políticos e banqueiros no protesto popular deste sábado no Centro de Madri. Em diversos momentos, a massa cantava em uníssono que “não é suicídio, isso é homicídio”, em referência ao caso trágico que ocorreu na sexta-feira.

“Culpados”, “Assassinos!” e “Guilhotina!” foram alguns dos dizeres dos manifestantes ao passar pela sede ou até mesmo por caixas eletrônicos de Deutsch Bank, Caja Madrid e Banco de Espanha, durante a marcha que percorreu a Gran Vía, antes de chegar ao Congresso. “Mãos ao alto! Isso é um assalto”, foi outro lema entoado pelos ativistas ao visualizar instituições bancárias.

Sobrou também para o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, a quem o público pedia a demissão imediata. O ato por uma nova Constituição e contra o chamado “Orçamento da Dívida” terminou com um minuto de silêncio em frente ao Congresso e a apresentação da Orquestra Solfônica, uma brincadeira com o nome da praça - a Puerta del Sol - onde surgiu o movimento dos Indignados, em 2011.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Direitista e esquerdista

Direitista e esquerdista – os dois são perfeitos idiotas. O direitista padece da doença senil do capitalismo e o esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo

Frei Betto – Publicado no Brasil de Fato

Nada mais parecido a um esquerdista fanático, desses que descobrem a nefasta presença do pensamento neoliberal até em mulheres que o repudiam, do que um direitista visceral, que identifica presença comunista inclusive em Chapeuzinho Vermelho.

Os dois padecem da síndrome de pânico conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável, envaidece-se com a claque endinheirada que o adula como um dono a seu cão farejador. O esquerdista, cercado de adversários por todos os lados, julga que a história resulta de sua vontade.

O direitista jamais defende os pobres e, se eventualmente o faz, é para que não percebam quão insensível ele é. Mas nem pensar em vê-lo amigo de desempregados, agricultores sem terra ou crianças de rua. Ele olha os deserdados pelo binóculo de seu preconceito, enquanto o esquerdista prefere evitar o contato com o pobre e mergulhar na retórica contida nos livros de análises sociais.

O esquerdista enche a boca de categorias teóricas e prefere o aconchego de sua biblioteca a misturar-se com esse pobretariado que nunca chegará a ser vanguarda da história.

O direitista adora desfilar suas ideias nos salões, brindado a vinho da melhor safra e cercado por gente fina que enxerga a sua auréola de gênio. O esquerdista coopta adeptos, pois não suporta viver sem que um punhado de incautos o encarem como líder.

O direitista escreve, de preferência, para atacar aqueles que não reconhecem que ele e a verdade são duas entidades numa só natureza.

O esquerdista não se preocupa apenas em combater o sistema, também se desgasta em tentar minar políticos e empresários que, a seu ver, são a encarnação do mal.

O direitista posa de intelectual, empina o nariz ao ornar seus discursos com citações, como a buscar na autoridade alheia a muleta às suas secretas inseguranças. O esquerdista crê na palavra imutável dos mentores do marxismo e não admite outra hermenêutica que não a dele.

O direitista considera que, apesar da miséria circundante, o sistema tem melhorado. O esquerdista vê no progresso avanço imperialista e não admite que seu vizinho possa sorrir enquanto uma criança chora de fome na África.

O direitista é de uma subserviência abjeta diante dos áulicos do sistema, políticos poderosos e empresários de vulto, como se em sua cabeça residisse a teoria que sustenta todo o edifício de empreendimentos práticos que asseguram a supremacia do capital sobre a felicidade geral.

O esquerdista não suporta autoridade, exceto a própria, e quando abre a boca plagia a si mesmo, já que suas minguadas ideias o obrigam a ser repetitivo. O direitista é emotivo, prepotente, envaidecido. O esquerdista é frio, calculista e soberbo.

O direitista irrita-se aos berros se encontra no armário a gola da camisa mal passada. Dedicado às grandes causas, as pequenas coisas são o seu tendão de Aquiles.

O direitista detesta falar em direitos humanos, e é condescendente com a tortura. O esquerdista admite que, uma vez no poder, os torturados de hoje serão os torturadores de amanhã.

O direitista esbraveja por ver tantos esquerdistas sobreviverem a tudo que se fez para exterminá-los: ditaduras militares, fascismo, nazismo, queda do Muro de Berlim, dificuldade de acesso à mídia etc. O esquerdista considera o direitista um candidato ao fuzilamento.

Direitista e esquerdista – os dois são perfeitos idiotas. O direitista padece da doença senil do capitalismo e o esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo.

Embora mineiro, não fico em cima do muro. Sou de esquerda, mas não esquerdista. Quero todos com acesso a pão, paz e prazer, sem que os direitistas queiram reservar tais direitos a uma minoria, e sem que os esquerdistas queiram impedir os direitistas de acesso a todos os direitos – inclusive o de expressar suas delirantes fobias.

Frei Betto é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

ASSEMBLEIA APROVA ACORDO PARA PR. A GREVE FOI CANCELADA.

23 de Setembro de 2012
Metroviários SP

Metrô recua e retira nova regra que privilegiava chefias

A assembleia realizada no dia 23 de outubro (terça-feira) decidiu aceitar a proposta de PR feita pela empresa nesse dia. A jornada de trabalho e a equiparação salarial serão discutas por uma comissão, mediada pela SRTE (Superintendência Regional do Trabalho e Emprego), nos próximos 30 dias.

Após muita pressão da categoria, o Metrô finalmente retirou a regra que privilegiava ainda mais as chefias no pagamento da PR (Participação nos Resultados). Foi necessária muita mobilização dos metroviários para evitar que um pequeno grupo de chefias recebesse um valor muito acima da grande maioria dos trabalhadores.

Para a PR 2012 foi utilizado o mesmo critério utilizado na PR passada. A proposta,que foi aceita pela assembleia, é 40% do salário nominal mais uma parcela fixa de R$ 3.251,15, assegurado o valor mínimo de R$ 4.140,63.

A parcela fixa e o mínimo de R4 4.140,63 não têm redutor. Somente a parcela de 40% do salário poderá ter redutor devido à realização de metas impostas pela empresa.

A empresa desistiu de pagar 80% do salário nominal a um pequeno grupo de chefias.

LEIA TAMBÉM: Mobilização da categoria enfrenta intransigência do PSDB

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Metroviários: assembleia de hoje deve decidir se categoria paralisará ou não suas atividades

22 de outubro de 2012
INTERSINDICAL


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Neste momento ocorre audiência no TRT que deve dar o tom da assembleia

Metroviários podem paralisar suas atividades nesta quarta-feira (24). Depois de enfrentarem a intransigência da direção do Metrô que, por decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), solicitou pela segunda vez que se postergasse a data da greve que estava marcada para o dia 4 deste mês, a categoria deve decidir em assembleia nesta terça às 19h, se a paralisação ocorrerá ou não.

Já houve um encontro entre sindicato e Metrô desde o início do mês, no entanto, apesar de a direção da empresa ter aceitado que o pagamento da Participação dos Resultados (PR) ocorresse em fevereiro, ainda insistem em manter o mesmo critério de distribuição proposto anteriormente que beneficia a alta cúpula da empresa. Oferta já recusada pela categoria.

Desde as 15h desta terça está acontecendo uma audiência no TRT que pode definir se os metroviários cruzarão seus braços ou não. Uma possível proposta de conciliação viável à categoria é que deve dar o tom dos encaminhamentos da assembleia desta noite.

Apenas neste ano esta é a terceira vez que os metroviários se mobilizam no sentido de paralisar suas atividades. A ameaça que deveria ter se concretizado no início deste mês é, na verdade, resultado de uma decisão anterior do TRT que em maio já havia concedido um prazo de até 120 dia para o Metrô apresentar nova proposta aos trabalhadores. No entanto, o prazo foi ultrapassado sem que nenhuma proposta fosse acordada.

 

LEIA TAMBÉM: Mobilização da categoria enfrenta intransigência do PSDB

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Terceirizações que levam à morte

Cenário de precarização no setor elétrico é acompanhado pela elevação do número de óbitos 

Pedro Carrano de Curitiba (PR)

abre---Rede_AENoticiasUm dos ramos do mundo do trabalho mais sujeitos à terceirização e mortes é o elétrico. Em grande parte, isso se deve ao processo de demissões e privatizações pelo qual o setor passou desde o final da década de 1990.

Homem trabalha em rede elétrica, setor mais sujeito à

terceirização e mortes - Foto: AENotícias

Em entrevista ao Brasil de Fato, o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná, Ulisses Kaniak, explica como as terceirizações estão neste contexto de privatização, chegando inclusive às companhias estatais de energia: “Mesmo as empresas estatais têm um nível de terceirização muito alto. Para cada dez trabalhadores diretos na Copel do Paraná, seis são terceirizados”, afirma, comentando também as possibilidades de articulação do movimento sindical e popular em torno da Plataforma Popular Operária e Camponesa para Energia.     

Brasil de Fato – Como está o quadro geral das terceirizações no ramo elétrico e quais as características específicas?

Ulisses Kaniak – Os dados que temos não são muito consistentes porque muita coisa acaba sendo maquiada em função da maior parte das empresas terceirizadas do setor estar registrada como empreiteira de construção civil. Diversos acidentes do setor elétrico com lesões graves e mortes são registrados dessa maneira. Quem fez esse estudo inclusive de forma mais recente foi a Fundação Coge, ligada a empresas do setor elétrico, um trabalho de 2009, em que alertava isso: eles buscaram dados reais das empresas e se notou que, na comparação de todas as empresas, quando elas eram estatais antes das privatizações, em 1997 e 1998, havia muito pouco nível de terceirização. Desde então, a quantidade de acidentes, especialmente com morte, aumentou muito. É uma prova de que a terceirização acaba gerando insegurança para os trabalhadores e um risco maior. Fala-se que, para cada morte direta no setor, há dez mortes de terceirizados e 100 mortes de terceiros, ou seja, de pessoas que tenham acidentes em rede caseira. Mas quem trabalha diretamente com energia são os primários e terceirizados do setor, então, comparando trabalhador com trabalhador, se vê que os terceirizados estão mais sujeitos ao risco. Mesmo as empresas estatais têm um nível de terceirização muito alto. Para cada dez trabalhadores diretos na Copel do Paraná, seis são terceirizados.    

Isso se iniciou em um contexto de demissões, o que forçou as estatais a serem terceirizadas e também a aderirem às privatizações?

Era bem claro isso nos anos em que havia o risco de privatização. Reduziu-se o quadro próprio, para dizer que era uma empresa “enxuta”. Claro que passou a gastar mais com terceirização, mas em média se paga muito menos para um terceirizado do que para um funcionário próprio, e até isso é diretamente proporcional à quantidade de segurança que as empresas terceirizadas investem, e demais itens de qualidade de vida e trabalho dos trabalhadores terceirizados, que sempre é pior. Não é isso que nós queremos. Nós queremos trabalhadores qualificados fazendo essa função, sendo valorizados da mesma forma. Então se vê numa empresa de distribuição de energia, equipes distintas de trabalhadores, de contratação direta e os terceirizados, que fazem rigorosamente a mesma coisa, não há diferença, agora o quanto vai receber no final do mês o primário e o terceirizado, é uma diferença brutal.     

Há algo no sentido de pensar esse processo de terceirização, articulando o ramo da energia como um todo nacionalmente?

Dentro da Plataforma Popular Operária e Camponesa para Energia, formada pelos movimentos sindical e social, como o MAB e o MST, já se tratou desse assunto numa reunião específica inclusive com o governo Federal, já foi feito esse alerta, através de uma apresentação do Dieese, que, a partir daquele estudo da Fundação Coge, agregou mais material que os próprios sindicalistas trouxeram, e demonstrou isso. Existe também lá na Plataforma essa preocupação não só em como fica o setor com as Concessões, mas para que se faça mais caso daquilo que está acontecendo. Isso não se limita ao setor elétrico. O setor de petróleo vive a mesma coisa.      

De que maneira o processo de terceirizações dificulta a organização sindical?

Dificulta bastante porque em geral as empreiteiras que atuam terceirizando serviços não dão margem para a entrada de um sindicato do ramo eletricitário, por exemplo, dentro da empreiteira para ter contato com o seu pessoal, que deveriam estar representados pelo sindicato do setor onde atuam. Ainda estamos começando no setor elétrico a buscar mais contato com os sindicatos que os representam para que, por exemplo, numa negociação de uma empresa a gente consiga negociar também as condições para os terceirizados dessas empresas. Isso é um sonho que ainda não aconteceu.

Há casos de reversão do processo de terceirizações em determinada empresa?

Há na Justiça decisões para os dois lados. Na Justiça do Trabalho, até ter uma sentença final acaba demorando muito. Há questões na Celg [Distribuidora SA], de Goiás, e outra na Eletrosul. Aqui no Paraná, temos um procedimento no Ministério Público do Trabalho em relação às terceirizações, na Copel, por exemplo. Dentro do Tribunal Superior do Trabalho (TST), sabemos que está sendo feita essa discussão da validade ou não da Lei de Concessões, que, em 1997, permitiu que as empresas fizessem terceirização de serviços essenciais. Só que muita gente enxerga isso como inconstitucional. O TST abriu uma discussão chamando uma Audiência Pública, com representantes de trabalhadores e das empresas também. A gente sabe que ainda não chegou ao ponto de lançar uma súmula, por exemplo, mas que há essa discussão. Há como fazer o embate dentro da Justiça.    

Há algum dado sobre como as terceirizações no ramo elétrico afetam a saúde do trabalhador?

Os dados que nós temos são dados de acidentes que provocam lesões ou morte. Quanto à saúde do trabalhador, se faz uma ideia, porque há uma qualidade de vida pior desse trabalhador terceirizado, em condições de trabalho desumanas, como horas-extras além do devido – às vezes são até incentivados para isso. Não há controle rígido sobre isso, a auditoria do MPT não é onipresente, são comuns denúncias dessa forma. Muito mais do que o setor primeirizado, os terceirizados vivem jornadas descontroladas de trabalho, o que aumenta o tempo de exposição a esse risco, e no geral mina a saúde da pessoa. Há também má qualificação e mau preparo para situações básicas de segurança. Se pudesse colocar uma equipe do MPT em cada empresa ia se ver muita coisa.    

Apesar de o processo de privatizações e de terceirizações atingir até mesmo as empresas estatais do ramo, estas ainda apresentam melhores condições que as privadas? As privatizações afetaram as empresas estatais também, o modelo é feito para se ter um setor privado, mas no fim das contas as estatais sobrevivem nesse modelo, e têm um desempenho maior que a média, basta ver o caso da Copel e Cemig, para nós é muito claro que o setor privatizado se preocupa em dar lucro, não se preocupa em levar desenvolvimento. Nas estatais, continua a lógica do lucro, muitas estatais ainda têm essa mesma visão, por mais que façam lição de casa, com programas sociais como o Luz para Todos, são empresas que têm uma lógica totalmente de dar lucro para acionistas, isso não pode ser a prioridade da empresa. É um discurso que se vale da lógica do mercado, substitui-se a função social, primordial de uma empresa, por uma função de dar lucro.  

Dentro da ideia de articulação entre movimentos sindical e social, há iniciativas como a do Sindieletro-MG, de articulação com o Movimento dos Atingidos pelas Barragem (MAB). Qual a importância de ações como essas? A Plataforma Popular Operária e Camponesa para a Energia tem se mostrado esse elo entre sindicatos e atingidos por barragens, por exemplo. São trabalhadores como nós do setor, afetados pelo que fazemos. Temos que ter essa preocupação em saber lidar com isso. Muitas vezes o processo de desenvolvimento não bota a mão na consciência, sobre este aspecto temos que travar este contato entre movimento social e sindical. É importante que os dois lados se conheçam melhor. A questão para nós é onde uma barragem é feita, que se tome todas as precauções.   

Quem é?

Ulisses KaniakAtual presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge). Engenheiro eletrônico, é funcionário da estatal de energia Copel, e atua pelo coletivo Sindical, que reúne sete sindicatos de diferentes segmentos da empresa. Atualmente no movimento “A Copel é Nossa”, que reuniu milhares de pessoas em 2001 contra a tentativa de privatização da empresa

‘Por causa do marketing, a eleição virou uma competição de produtos’

ESCRITO POR GABRIEL BRITO E VALÉRIA NADER, DA REDAÇÃO

Mais uma vez o calendário eleitoral girou e volta a se fazer presente. Saturados por praticamente duas décadas de tucanato no estado, com forte hegemonia também na capital, os paulistanos irão às urnas em 7 de outubro eleger vereadores e votar o primeiro turno da disputa pela prefeitura.

Em entrevista ao Correio da Cidadania, Ivan Valente, deputado federal pelo PSOL (a bancada mais bem avaliada da Câmara Federal), qualificou os atuais processos eleitorais como “uma competição artificial de propostas, sem aquelas que seriam mais elaboradas e situadas numa realidade concreta”.

Para ele, obviamente por conta dos milionários financiamentos privados que comprometem quaisquer campanhas e mandatos, “a eleição virou, em muitos casos, uma competição de produtos. Os candidatos inventam produtos, como esses vales, bilhetes únicos, apresentam números, um conjunto de promessas e anúncios que não discutem com rigor qual seria a proposta para a cidade”.

Valente lamenta ainda a capitalização do vazio político pelo conservadorismo de Celso Russomano (“uma candidatura avulsa, sem nenhuma movimentação real da sociedade civil, mas com destaque na mídia”), ainda que acredite numa reviravolta de um de seus dois prováveis adversários no segundo turno, Serra ou Haddad, por conta do poder econômico de suas campanhas.

Por fim, critica o monopólio do mensalão nas discussões da mídia, que em sua opinião “deforma o processo eleitoral”, por ser “monopólica, concentrada, com uma visão de pensamento único”. Mesmo assim, Ivan Valente não acredita que o julgamento do escândalo que abalou o PT em 2005 tenha valor preponderante. Mas espera que mais adiante seja capitalizado à esquerda no eleitorado nacional.

Correio da Cidadania: Como você tem visto o atual processo eleitoral em nosso país, no que diz respeito às campanhas municipais, seu conteúdo e as propostas mais repercutidas? Acredita que tem despertado real interesse na população?

Ivan Valente: O processo eleitoral brasileiro só gera um grande interesse público na reta final, o que novamente acontece em 2012. Mas neste ano há um agravante, pois a grande mídia brasileira está tratando de forma bastante monopolista o julgamento do mensalão, transmitido ao vivo e ocupando grande parte do noticiário com o assunto. Isso está causando uma interferência grande nas atenções do momento. Não sei qual vai ser o impacto geral do processo julgado pelo STF. Algum impacto terá, mas não sei o quanto. De toda forma, ocupa um espaço político grande demais. E de resto, o povo costuma se interessar pelas eleições mais na reta final.

Correio da Cidadania: O que o conteúdo programático dessas campanhas, no geral, diz a respeito de nosso momento político? Os temas mais urgentes da vida das cidades estão sendo realmente contemplados?

Ivan Valente: Acho que a eleição virou, em muitos casos, por causa da marketagem política, uma competição de produtos. Os candidatos inventam produtos, como esses vales, bilhetes únicos, apresentam números, como “triplicar a guarda municipal”, um conjunto de promessas e anúncios que não discute com rigor qual seria a proposta para a cidade. A dívida pública municipal seria pauta importante, assim como a publicidade da arrecadação real, também em termos de sonegação e evasão fiscal. E aí sim as prioridades poderiam ser definidas, baseadas na realidade da cidade, tratando assuntos como transportes e educação, por exemplo, e recebendo mais recursos e iniciativas. Mas, da forma atual, fica uma grande competição marketeira pra conquistar o voto do eleitor, ainda mais em relação aos partidos que têm muito tempo na televisão. Uma competição artificial de propostas, sem aquelas que seriam mais elaboradas e situadas numa realidade concreta.

Correio da Cidadania: Como analisa especificamente o processo eleitoral na cidade de São Paulo?

Ivan Valente: Em São Paulo sofremos com a realidade específica da cidade, que concentra a sede, o núcleo duro dos maiores partidos que têm competido nacionalmente, PT e PSDB. De fato, há uma disputa cansativa nesse contexto. O PSDB é um partido que já “enjoou”, pois há uma grande rejeição a seu candidato, Serra, com os tucanos há 18 anos governando o estado nessa supremacia neoliberal. E as propostas petistas perderam apelo.

Infelizmente, esse fato não é explorado pela esquerda, mas exatamente por alguém que se apresenta como novo sem ser novo. O Russomanno é uma candidatura quase avulsa, de certa forma uma aventura que a cidade está se dispondo a correr, também beneficiada pelo cansaço das propostas apresentadas pelos outros. O povo de São Paulo não acredita nas propostas, pois vê que a moradia não se resolve, o trânsito continua entupido, entre outras questões atuais. A população é iludida com uma proposta que parece ser nova, mas não tem estrutura, não é baseada numa movimentação real da sociedade civil. Porém, conta com bastante destaque midiático.

Essa é a situação predominante, com boa chance de o Russomano se eleger, porque, ao passar pelo primeiro turno, o concorrente do PT ou PSDB que ficar de fora do segundo turno tende a despejar nele seu apoio. Mas ainda faltam 15 dias e o PT e o PSDB têm muito tempo de TV e muitos recursos, marketing. Como tem muita grana envolvida, ainda é precipitado fazer o prognóstico.

Correio da Cidadania: De modo que o fenômeno Russomano é um evidente fruto do vazio de ideias no debate político e desse “enjoo” da população.

Ivan Valente: Sim, aqui em São Paulo o vazio vem dessa hegemonia tucana somada ao desgaste do petismo. Infelizmente, nós ainda não conseguimos nos apresentar com uma opção real de esquerda. E mesmo candidaturas que podem tentar se apresentar como alternativas não tiveram poder pra alçar voos mais altos.

Correio da Cidadania: Um personagem marcante destas eleições é, sem dúvida, como você mesmo já salientou, o chamado mensalão – na cidade de São Paulo, explicitamente explorado pelo tucanato em sua disputa voto a voto com o petismo para a chegada ao segundo turno. Teria algo a dizer sobre o mensalão? Terá algum impacto nos resultados eleitorais, especificamente na corrida do PT às prefeituras?

Ivan Valente: Acredito que na reta final, com a condenação de algumas figuras públicas do PT, vai ter alguma influência, até pela forma saturada como a mídia trata a questão. Não creio que seja o elemento definidor, mas, pela mídia e por calhar justo na reta final, quando o eleitor fica mais atento aos candidatos, algum efeito vai ter. Espero que o efeito seja pelo lado da esquerda, que consigamos capitalizar, digamos, os erros do PT. Que a capitalização não seja pela direita, pela lógica que o PSDB e DEM tentam aplicar. Que o voto petista originário migre para uma condição de esquerda, nacionalmente. Mas não será simples fazer isso imediatamente. Possivelmente, o desdobramento será futuro.

Correio da Cidadania: O que pensa da campanha de Giannazi, candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo?

Ivan Valente: É uma campanha difícil, uma vez que há uma concorrência muito forte, e não se tem conseguido romper o cerco das precariedades do PSOL, como, por exemplo, o tempo de TV. Além disso, é preciso fazer um embate mais calibrado contra os competidores que se pretende atingir. Houve algumas falhas nesse sentido. Creio que deveríamos tentar ganhar o voto mais consciente da sociedade, o voto frustrado do PT, mas, para tal, precisaria de um calibre político voltado à questão. Talvez houvesse um manancial de votos a ser explorado de forma mais substantiva. De resto, a campanha tem dificuldades naturais ao PSOL. Não conseguiu o destaque de outros locais, como Rio de Janeiro, Belém, Macapá, Fortaleza, onde o desempenho é bom.

Correio da Cidadania: Já que falamos de outras capitais, faria uma comparação entre a campanha de Giannazi por aqui e a que tem se desenrolado por parte do PSOL no Rio (capital), onde a candidatura de Freixo cresceu e se entusiasmou com uma grande adesão de camadas progressistas?

Ivan Valente: Não quero fazer comparações, pois não creio que seja o momento. Há outras questões complexas envolvidas. O que quero dizer é que a campanha do Freixo tem solidez política, entrou no vazio da direita carioca, bastando ver o Garotinho, Cesar Maia, seus correligionários, o PSDB, com desempenho bem baixo. Além disso, empolgou a intelectualidade do Rio de Janeiro, empolgou os artistas e ganhou um grande apelo na juventude carioca. É uma candidatura que pode surpreender e até chegar ao segundo turno, o que não depende só do PSOL a essa altura, mas também dos outros partidos. O desempenho do PSOL já é considerado excepcional na segunda cidade do país, até pela simbologia que carrega o Rio de Janeiro. É uma candidatura que conseguiu empolgar, tendo consistência política.

Correio da Cidadania: Como tem visto, no geral, a atuação das correntes mais à esquerda no espectro político no atual cenário eleitoral? Estão conseguindo se colocar à altura dos desafios que se esperam para iniciar um debate e postura alternativos, de forma a avançar efetivamente no enfrentamento das questões sempre negligenciadas e que, de fato, afetam a população?

Ivan Valente: Acho que onde temos um acúmulo maior tivemos condição de colocar melhor o nosso ponto de vista. Com um candidato forte, conseguimos destaque, como em Belém, onde nosso candidato já governou o estado por oito anos, ou como em Macapá, onde, além de nosso candidato estar muito bem colocado, conta com o apoio do Randolfe Rodrigues, nosso senador, que tem 80%, 90% de aceitação no estado. Em Fortaleza acontece o mesmo, com o Renato Roseno. São todas figuras que dão relevo ao partido. Onde as candidaturas são mais expressivas, é mais fácil trazer o apoio popular ao PSOL.

Fora isso, o partido tem sido ajudado pelo reconhecimento da bancada federal, pela sua atuação, pelos temas que aborda, pela ética política, o que o ajuda nacionalmente. Tem havido um reconhecimento, mas não é fácil competir com as máquinas e o marketing político nas grandes cidades. Ainda faltam maior inserção social e chapas mais fortes para vereador, apresentando pelo Brasil inteiro candidaturas que tenham presença na população.

Correio da Cidadania: E o que dizer, neste contexto, dos partidos hoje mais representativos da esquerda, além do PSOL, PSTU e PCB entre alguns mais conhecidos? O que singularizaria cada um deles no atual cenário, e qual a sua expectativa quanto ao saldo que deverão deixar?

Ivan Valente: Eu diria que esses outros partidos se destacam nas eleições em muito menor escala. A única candidatura do PSTU que ganhou destaque é, inclusive, em aliança com o PSOL, em Aracaju, onde há certo vácuo; outro exemplo é do PCB em Recife, também aliado ao PSOL. Mas não chega a ser tão relevante. Creio que, por não terem representação institucional, e também por suas posições muito doutrinárias, têm dificuldades no processo eleitoral. Mais dificuldades que o PSOL, embora também tenhamos muitas.

Correio da Cidadania: Arriscaria um palpite sobre os resultados do 1º turno: Russomano versus Serra ou versus Haddad?

Ivan Valente: Nesse momento ainda acho melhor esperar pesquisas. É muito provável que o Russomano já esteja lá, basta não cometer nenhum erro gravíssimo. Mas não há nada definitivo ainda.

Correio da Cidadania: De todo modo, considerando-se que, em um segundo turno, Serra ou Haddad disporiam de artifícios e recursos suficientes para passar à frente de Russomano, qual das duas alternativas significaria uma relação um pouco menos truculenta e insensível com a população mais periférica e desfavorecida economicamente?

Ivan Valente: Apesar de todas as críticas contundentes que temos ao PT, certamente o programa do PT tem mais consistência. Mas não quer dizer que o PSOL se definirá nessa direção no segundo turno. É bem provável que opte por um voto mais progressista, contra o neoliberalismo privatista, apesar de o PT também enveredar por tais caminhos. E o Russomano é uma incógnita, não faz parte de um partido que possui projeto, um verdadeiro programa por trás.

Se fizermos um balanço do que foi o PT no governo da Erundina e mesmo da Marta, pode-se dizer que foi melhor. Não grande coisa, mas a Erundina foi bem, sim, era da época em que o PT ainda “estava na briga”; com a Marta, foram maiores os percalços.

Correio da Cidadania: Você fez referências à mídia e ao destaque que vem dando ao chamado mensalão. O que pensa do papel que a mídia tem exercido nesse processo eleitoral?

Ivan Valente: A mídia brasileira certamente é monopólica, concentrada, com uma visão de pensamento único. De certa forma, ela deforma o processo eleitoral. As chances e espaço para os candidatos e ideias não são iguais, as informações não são fidedignas e a mídia, por fim, tem lado. Portanto, eu diria que é pouco democrática a cobertura que a mídia realiza.

Valéria Nader, economista e jornalista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Metroviários: Mobilização da categoria enfrenta intransigência do PSDB

clique aqui para ver o boletim da Intersindical

Boletim Eletrônico da Intersindical - N° 62 - 17/10/2012

"Quem é responsável direto no funcionamento do sistema recebe uma PR muito aquém da sua real participação nos resultados do Metrô", afirma Pasin, presidente da Fenametro

Desde o último 15 de setembro os metroviários estão em estado de greve. A crise já se arrasta desde o fim do primeiro semestre quando, por determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), o Metrô conseguiu suspender a greve que aconteceria em 23 de maio com a condição de que apresentasse, em até 120 dias, uma proposta para resolver o problema de linearidade na Participação dos Resultados (PR).

Paulo Pasin, presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários) e Secretário Geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, explica que “desde 2007 o Metrô paga uma parte fixa e outra proporcional ao salário”. Porém, por conta dessa diferença de ordem hierárquica, quem tem maior salário consequentemente acaba recebendo uma PR maior. “Já quem é responsável direto no funcionamento do sistema recebe uma PR muito aquém da sua real participação nos resultados do Metrô”, analisa. Ele recorda que em maio foi firmado um acordo, em que se formaria uma comissão para definir a forma de distribuição da PR, no entanto, na primeira rodada de negociação o Metrô manteve a regra anterior e ainda alterou a data de pagamento para abril. Além de terem criado uma categoria diferenciada para o Presidente, Assessor do Presidente e para a alta cúpula do Metrô que já sustentam elevados salários.

Negociações como estas, afirma Pasin, "evidenciam a forma como o PSDB busca sempre privilegiar seus indicados e os altos cargos em detrimento de quem realmente transporta o usuário”. Ele ressalta que, caso a greve se concretize, talvez este seja um dos principais motivos que está motivando a categoria e nesse sentido é importante que a população compreenda o modo como os trabalhadores estão sendo tratados por parte do governo.

Neste segundo momento, após os metroviários decretarem novamente estado de greve, programando-a para 4 de outubro, mais uma vez o TRT solicitou que se prorrogasse a data da paralisação. Demonstrando uma real preocupação com a população – ao contrário do que as grandes mídias tentam transmitir –, os metroviários concordaram em adiá-la para o próximo dia 24.

Desta forma, um novo calendário já está sendo cumprido na tentativa de que os usuários possam ter uma completa compreensão dos objetivos e fundamentos desta greve. A partir desta segunda (15) os funcionários passaram a utilizar adesivos; coletes no dia 18; e não irão atuar uniformizados nos dias 22 e 23. Além destas ações que visam chamar atenção da população, uma carta aberta já está sendo distribuída desde a última terça-feira (09). [clique aqui para acessá-la]

Em entrevista à INTERSINDICAL, Pasin fala sobre a atual situação de greve, impasse que perpassa o abandono histórico pelo qual o Metrô e o transporte sobre trilhos passam no Brasil; abusos do governo do estado, como solicitar ação da Polícia Militar contra os metroviários, em caso de estes aderirem à alternativa de catraca livre; precarização no trabalho dos metroviários; e a campanha de 2% do PIB para o sistema de metrôs e trens.

INTERSINDICAL – Considerando como a campanha está sendo conduzida este ano, já com um acordo entre Metrô e TRT descumprida, qual o balanço que você faz deste atual estado de greve?

 

PAULO PASIN – Até o dia 3, data da última assembleia, aconteceu outra negociação em que o Metrô assumiu o compromisso de enviar uma nova proposta. Ocorre que, de maneira desrespeitosa com a categoria, depois disso, eles enviaram uma carta não confirmando a proposta. Isso mostra como o PSDB se relaciona com o movimento sindical e popular.

Apesar disso, um dado que coloca para a gente uma expectativa de negociação é a própria mobilização da categoria. Agora nós estamos negociando algo que já estava firmado no acordo que fizemos no dia 23 de maio. Não estamos pedindo nada de novo, estamos pedindo somente tudo que estava dentro daquilo que foi negociado.

A Justiça do Trabalho determina que a categoria mantenha um percentual de 100% do pessoal trabalhando durante as greves, nos horários de pico, e 85% nos demais. Você considera que esta determinação se configura como um cerceamento ao direito de greve?

 

O governo pede e em geral o Ministério Público também pede e a Justiça do Trabalho acaba deferindo a liminar em favor desta decisão. Isso é evidentemente um cerceamento ao direito de greve. O direito de greve implica na paralisação do sistema. Acontece que, a Constituição brasileira permite exercer o direito de greve, mas uma lei de 1989, do então presidente José Sarney, criou a de Lei de Greve, que na verdade é uma lei anti-greve, pois dá à Justiça do Trabalho o direito de impedir a greve.

Como o Governo do Estado tem reagido frente à alternativa de manifestação para liberar as catracas que vocês estão sugerindo desde o primeiro semestre?

 

Entendemos que é um direito do usuário se locomover por São Paulo. Sem problemas, a gente transporta o usuário, mas liberamos as catracas. Porém, o Governo do Estado tem reagido com mais dureza ainda em relação a esta proposta. Na última greve, o governo decretou que, além de ter 100% dos trens em operação, que também tivesse a presença da Polícia Militar nas linhas de bloqueio das estações do Metrô, com autorização para prender qualquer metroviário sindicalista, para impedir que eventualmente a gente liberasse as catracas.

Se a preocupação é o usuário, vamos estabelecer de comum acordo que tudo irá funcionar, mas com o bloqueio liberado. Até porque, em dia de greve, o Metrô não tem nenhum argumento financeiro, já que eles podem acionar o PAESE (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência), que permite à população se transportar de ônibus gratuitamente quando há problemas de circulação de trem. Se o gasto do estado, quando há qualquer tipo de problema emergencial no Metrô, se destina ao sistema PAESE, porque não transportarmos os usuários no próprio Metrô?

*Uma enquete aberta a comentários está disponível clicando aqui.

 

Os metroviários fazem muitas horas extras e uma das demandas é pela uniformização da jornada de 36h semanais para a operação. Em que medida esse excesso de trabalho incumbido aos funcionários pode prejudicar os usuários do metrô?

 

Todas as estatísticas demonstram que boa parte dos acidentes de trabalho ocorrem com trabalhadores que acumulam excesso de horas extras. Isso acarreta no adoecimento do trabalhador e uma série de coisas, que faz com que o próprio sistema acabe operando com menos trabalhadores. Não há possibilidades de se manter um sistema funcionando com funcionários que fazem horas extras permanentes. Elas afetam diretamente a saúde do trabalhador, a vida familiar dele, seu estado emocional. A consequência acaba sendo a diminuição de trabalhadores, pois aquele funcionário que deveria estar trabalhando está afastado, com doença ocupacional, com stress nas relações, está operando um sistema com muita complexidade tecnológica. Logo, eventualmente um acidente pode acabar ocorrendo.

Do ponto de vista da demanda dos usuários, nós temos que ter uma escala de trabalho condizente com o trabalho que exercemos. Quando o Metrô estabeleceu as escalas de trabalho, não levou em consideração que São Paulo é uma das maiores metrópoles do mundo. Antigamente, aos finais de semana, podia se escalar menos funcionários. Hoje não há mais condição de ser assim. O movimento aos sábados e domingos é quase igual aos dias úteis.

O que nós pedimos? Que se monte as escalas de 36h semanais, para que se atenda o rodízio de trabalhadores e se atenda aos finais de semana descentemente.

Hoje o metrô conta com cerca de 8600 funcionários. Este é número baixo para um bom funcionamento do sistema metroviário?

 

Não restam dúvidas. A quantidade de usuários que nós transportamos por dia é equivalente a quase dois Uruguais, ou seja, quase cinco milhões de pessoas diariamente. Numa atividade que envolve atendimento a tantas pessoas você tem de montar esquemas de plataforma nos horários de pico, por exemplo, para permitir o embarque e desembarque o mais rápido possível com segurança. É uma reação em cadeia, que se não funcionar, você vai atrasando todo o sistema, então tem de ter operadores. O Metrô está expandindo as linhas e quanto mais se expande, mais gente se tem de admitir dentro desse sistema.

Em nossa categoria temos muito acúmulo de experiência e uma relação muito profissional com a empresa. Os funcionários ficam muitos anos no Metrô. Com isso, a média de idade destes trabalhadores é um pouco avançada, assim como tem muitos companheiros que estão se aposentando e precisam deixar a empresa. Logo, aquele posto precisa ser substituído e num sistema complexo, como o do Metrô, você não faz isso do dia para a noite. Tem de haver uma capacitação do pessoal, tem de fazer treinamento, tem de haver tempo suficiente para os treinamentos. Não é fácil se operar um trem que transporta 11 pessoas por metro quadrado. Em caso de qualquer falha a responsabilidade é muito grande.

Há alguma possibilidade de o modelo da Linha-4 Amarela, em que não há trabalhadores operando os trens, culminar com a diminuição gradativa de trabalhadores em operação ou, talvez, um aumento da terceirização?

 

Aumentar a terceirização já é uma realidade. Atualmente temos praticamente a relação de 1x1 (um trabalhador terceirizado para um concursado). Há um exemplo concreto disso: uma empresa quarterizada, a Façon (empresa de tecnologia terceirizada da Alstom, que por sua vez é terceirizada do Metrô), acaba de falir e mais de 200 companheiros ficaram sem receber. Ela não depositava FGTS, INSS e o pessoal foi pego de surpresa, já com dois meses de salário atrasado. Eles procuraram o Sindicato dos Metroviários e, por termos uma visão de classe, pois consideramos que todos que trabalham no Metrô são metroviários, independente de ser concursado ou não, fizemos uma mobilização conjunta e conseguimos que a Alstom assumisse a responsabilidade de, no mínimo, pagar os direitos destes companheiros.

Esta já é uma situação extrema. A terceirização está avançando e em algumas áreas da manutenção e determinadas atividades, que antes eram executadas por concursados, já está sendo operada por terceirizados.

Com relação à questão de operar trens sem o operador, esta é uma irresponsabilidade do Governo do Estado. O nosso sistema metroviário é baseado num conceito de segurança muito parecido com o da aeronáutica. Ou seja, todos os equipamentos têm redundância, têm falha segura, que é quando o sistema tem alguma dúvida do que está acontecendo, ele considera a condição mais segura. Por isso o Metrô nunca teve choque de trens, o primeiro aconteceu em maio deste ano e este caso aconteceu da seguinte forma: o trem que deveria ter recebido o “Código 0”, ou seja, freado, mas no momento em que ele deveria receber este sinal, ele entendeu que tinha de acelerar. Nós só não tivemos uma tragédia porque foi um operador de trem que percebeu o erro e aplicou a emergência.

Alguns podem argumentar que estatisticamente a possibilidade de erro é muito pequena, mas um dia ela pode acontecer, pois se trata de um equipamento eletrônico. Se isso acontecer na Linha-4 Amarela, você não tem o operador para poder aplicar a emergência.

A prova que o Governo do Estado sabe o risco que está colocando o usuário, e esta é uma batalha ideológica, é que para tentar demonstrar modernidade à população e tentar descaracterizar a importância do trabalho humano, em outubro do ano passado a Linha-4 ficou parada quase a manhã inteira, pois eles detectaram uma possível falha no Sistema de Circulação de trens. Mas isso aconteceu antes de eles entrarem em operação comercial. Agora você imagina se isso ocorre com os trens já em operação comercial e com usuários.

Uma das lutas da Fenametro é pelo investimento de 2% do PIB para o sistema de metrôs e trens. Em que a destinação desta verba poderia contribuir para melhorar o sistema de transporte sobre trilhos?

 

O objetivo da campanha, frente à necessidade que se coloca no país, é inverter totalmente a lógica do sistema de transporte atual – tanto de passageiros, quanto de cargas. Na década de 1950, boa parte do transporte de cargas e pessoas era feito sobre trilhos. Com a pressão das indústrias automobilísticas e petrolíferas, o Brasil acabou optando por um modelo parecido com o dos Estados Unidos, em que se privilegiam as rodovias. Isso significou praticamente a destruição de toda a malha ferroviária, o que obviamente afetou o transporte de passageiros.

Neste período todos os investimentos foram baseados em uma ideologia de que cada brasileiro deve sonhar em ter seu carro, em detrimento do transporte público em geral, especialmente sobre trilhos. Assim, chegamos a um colapso na cidade. Pode se ampliar a marginal, construir viaduto, enquanto o número de carros continuar explodindo nada vai resolver. Em agosto o Brasil bateu o recorde de venda de carros – 400 mil emplacados –, imagine o impacto disso numa cidade já congestionada como São Paulo. Esse diagnóstico todos do governo têm, porém, no momento em que são oferecidas alternativas prevalece a luta capitalista dos diversos setores. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, está fazendo um lobby pesado pelo BRT (Bus Rapid Transit, ou Transporte Rápido por Ônibus), porque atende às montadoras de ônibus. Então há um choque dos interesses do capital e cada vez mais está se agravando a situação.

Não existe saída para transporte de massa de grande capacidade sem trens e metrô. Enquanto não houver um investimento de peso nos transportes de grande capacidade, não haverá outra solução. Pode ser que daqui a algum tempo percebamos que 2% do PIB é pouco, mas o sentido da nossa campanha hoje já é mais do que os governos têm investido sistematicamente. Os governos até agora têm investiu no máximo 0,78% e até o início deste ano somente 10% da verba foi investida.

O outro objetivo desta campanha é para que este dinheiro seja investido em Metrô e trens públicos e estatais. O que está acontecendo no país hoje é uma privatização generalizada sobre a forma de parceria público-privada, que é uma forma de o estado subsidiar a iniciativa privada. Isso tem uma consequência grande para o usuário na tarifa. Numa comparação, nos Metrôs do Rio de Janeiro, que são privatizados, a tarifa é R$ 3,20. Somando com os trens, já são R$ 4,95. Diferente de São Paulo, lá não existe transferência gratuita. Imagine o quanto um morador das zonas mais distantes do Rio gasta para se locomover para o trabalho.

*Saiba mais sobre a campanha clicando aqui.

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Chávez ganhou, a direita não aceita

O povo está participando, sendo protagonista do seu futuro. É por isso que os EUA querem o fim de Chávez e seu projeto bolivariano

Postado: Brasil de Fato

Vito Giannotti

A direita dos EUA e seus discípulos no Brasil, sobretudo os grupos da mídia empresarial/patronal, não admitem esta derrota. A mídia – agrupada na revista da editora Abril, no jornal que falou da “Ditabranda”, no empresarial Estadão e nas Organizações Globo – está altamente contrariada. E tem razão. Como declarou Chávez, logo após votar, dia 7 de outubro, “o que está em jogo nesta eleição é o modelo neoliberal”. Na mesma hora o site daVeja colocava sua cobertura que começava a frase: “O ditador Chávez...” Ditador? Com esta eleição disputada, fiscalizada, observada por centenas de enviados internacionais? E daí? AVeja continua sua cruzada, feita de mentiras, como capitã da extrema direita no nosso país.                

A eleição do dia 7 de outubro foi a mais fiscalizada do mundo. Os EUA e seu candidato, o aprendiz de golpista Capriles, estavam doidos para achar alguma irregularidade. Queriam virar a mesa. Mas não deu. Um dos grandes observadores foi Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique. Ele se instalou em Caracas, observou as eleições e declarou: “Venezuela é exemplo de democracia para a Europa em crise que está sendo penalizada pelo fracasso do neoliberalismo”. E continuou: “As eleições na Venezuela desde 1998 são um jogo limpo e aberto”.            

A mesma coisa foi dita pela guatemalteca Rigoberta Menchu, prêmio Nobel da Paz que esteve em Caracas fiscalizando o pleito. A lisura total das quatro reeleições de Chávez foi sempre reconhecida por um observador dos EUA acima de qualquer suspeita de ser amigo de Chávez: Jimmi Carter. Mas o que a mídia empresarial brasileira não admite é uma última frase de Ignácio Ramonet, após a vitória de domingo: “Esta eleição mostra que é possível governar de outra forma”. Sim, é exatamente isso que a direita não admite. Como deixar ganhar alguém que fala em “Socialismo do Século 21”?              

Na esquerda muitos se queixam que o bolivarismo de Chávez não é revolucionário, não é marxista. Verdade. Mas a consciência do povo venezuelano está se abrindo para a necessidade de um novo modelo, contrário ao neoliberalismo hoje hegemônico. O povo está participando, sendo protagonista do seu futuro. É por isso que os EUA querem o fim de Chávez e seu projeto bolivariano. Por isso que a imprensa controlada pelo Império e seus discípulos na Veja, FSP, GLOBO e OESP envenenam os olhos e as mentes de suas vítimas.            

A direita venezuelana, com todo o carinho da mídia da direita do continente, vai tramar mil e uma coisas para dar um golpe neste projeto. Hoje não precisa um golpe militar. Há outros meio disponíveis à mão. É só se lembrar do Paraguai de Lugo. Tudo eles farão. E daí? O que fazer? É sempre o mesmo refrão: construir nossa mídia contra-hegemônica. Forçar a mudança das leis atuais que só servem ao império da mídia patronal.    

 

colunista_Vito_GianottiVito Gianotti nasceu em uma família proprietária de uma pequena fábrica de calçados, na Itália. Seu pai era fascista, "inimigo mortal dos socialistas e comunistas". Apesar da influência que recebeu no lar - e talvez justamente por causa dela - resolveu dedicar a vida para lutar ao lado da classe trabalhadora, contra a exploração. Viajou o mundo e acabou no Brasil, onde se tornou metalúrgico e engajou-se na resistência à ditadura militar. Sua universidade foi a fábrica. Fanático por livros, devorou muitos. E escreveu 20, dentre os quais Muralhas da Linguagem (Mauad, 2004) e o recém-lançado História das lutas dos trabalhadores no Brasil(Mauad, 2007). Hoje, com 63 anos, coordena o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), entidade que se dedica a aperfeiçoar a comunicação dos trabalhadores para disputar a hegemonia na sociedade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Incêndios criminosos em favelas visam a eliminar pobres, acredita jornalista

 

foto_mat_38275Para jornalista José Arbex Jr., incêndios devem ser avaliados dentro do quadro maior da crise do capital. "Quanto mais ela se acentua, quanto mais veem que não há saída, mais acontece esta desumanização dos pobres, daqueles que não são consumidores. É uma forma de eliminá-los”, defendeu em um debate promovido por entidades e movimentos sociais na Universidade de São Paulo (USP).

Fábio Nassif – Carta Maior

São Paulo - Provocados pelo grande número de incêndios em favelas e moradias precárias na cidade de São Paulo, entidades e movimentos sociais organizaram um debate na Universidade de São Paulo (10) para discutir o tema e organizar iniciativas de solidariedade às famílias desabrigadas. O jornalista José Arbex Jr. abriu dizendo que “não devemos relacionar este fenômeno nem só a São Paulo nem só ao Brasil. Estamos diante de um processo universal, em que a crise do capital, quanto mais ela se acentua, quanto mais veem que não há saída, mais acontece esta desumanização dos pobres, daqueles que não são consumidores. É uma forma de eliminá-los”.
Arbex, que também é escritor e professor da PUC-SP, foi duro ao falar sobre a aceitação da sociedade diante do discurso da grande mídia. Na ocasião, usou como exemplo a versão de que o incêndio na Favela do Moinho teria iniciado com uma briga entre travestis, fator que o alarmou já que estas são uma das personagens mais atacadas pela mídia e pelo senso comum da sociedade. A versão da mídia, portanto, alimentaria a rejeição da sociedade também às travestis, e facilitaria a incorporação pela classe média paulistana de que os culpados pelos incêndios são os próprios moradores.
“O incêndio da favela não é apenas um fenômeno circunscrito à disputa imobiliária nem à especulação produzida pela Copa do Mundo e pelos Jogos Olímpicos. É também isso, mas é muito mais grave. Porque nos leva a perguntar: como é possível a mídia articular este discurso e não ser atacada? Isso é o grave, pois indica um certo entorpecimento das consciências e uma aceitação passiva desta narrativa”, arrematou o professor.
Morador e liderança da Favela do Moinho, Milton Sales endossou a crítica à mídia ao dizer que “é um bando de pau mandado” dos grandes empresários. Miltão, como é conhecido, afirmou que os valores individualistas, consumistas e violentos transmitidos na televisão brasileira também afetam os moradores de favelas.
Givanildo Manoel, militante do Tribunal Popular, relatou uma série de projetos que estão em curso na cidade e denunciou o episódio ocorrido na Favela do Piolho, onde vários fatores indicam o caráter criminoso dos incêndios. “Essa política só é possível de ser implementada por conta do processo de militarização da cidade”, disse Givanildo em referencia aos militares alocados em quase todas as subprefeituras e à chamada “bancada da bala” recentemente eleita na Câmara dos Vereadores.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) implementadas no Rio de Janeiro reforçam a tese de Givanildo, inclusive por abrirem espaço para empresas na favelas. Em São Paulo, o militante acredita que os projetos imobiliários voltados para as periferias, acompanhados da violenta ação policial, alimentam o setor imobiliário e visam expulsar populações pobres para ainda mais longe do centro da cidade.
O professor do Departamento de História da USP, Jorge Grespan, seguiu na mesma toada e disse que “o fato é que essas áreas precisam ser desocupadas para que o capital financeiro tenha poder de abocanhar pedaços maiores da mais valia”. Grespan relacionou as várias formas de exploração sofridas pelos moradores de favela. “É a exploração tanto pelo patrão como pelo setor financeiro pago pelo patrão”, disse.
Várias intervenções dos estudantes presentes na plateia questionavam como a população poderia reagir diante deste processo de reorganização da cidade que prejudica os mais pobres. Todos os debatedores citaram as dificuldades de organização popular na atual conjuntura, mas endossaram a convocatória das iniciativas já agendadas. e no dia 1º de dezembro, data de inicio da Lei Geral da Copa, deverão ocorrer novas manifestações.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Vito Giannotti: Todo dia é dia de luta

foto_mat_38281“‘O brasileiro é bonzinho’, essa é a ideia que queremos combater”, diz em entrevista à Carta Maior o escritor e coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), Vito Giannotti, um dos idealizadores da agenda 2013 Lutas, Revoltas, Levantes e Insurreições Populares, que contou com uma equipe de historiadores, jornalistas, professores e estudantes para levantar fatos e fotos que poucos conhecem sobre a história do país nos séculos XIX, XX e XXI. A agenda, diz Giannotti, mostra que "o povo brasileiro foi e é um lutador 365 dias por ano".

Rodrigo Otávio – Postado Carta Maior

Rio de Janeiro – O livro agenda 2013 Lutas, Revoltas, Levantes e Insurreições Populares, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), mostra que, em 1978, na preparação da primeira greve dos metalúrgicos de São Paulo, a Oposição Sindical publicou o cordel “Chegou a Hora: Nós e os Patrões – O Desafio de Morte”, do metalúrgico Pedro Macambira. Assim, através das páginas da publicação, vê-se que via manifestação cultural ou megafone, chova ou faça sol, o povo brasileiro foi e é um lutador 365 dias por ano.
“‘O brasileiro é bonzinho’, essa é a ideia que nós queremos combater”, diz em entrevista à Carta Maior o escritor e coordenador do NPC Vito Giannotti, um dos idealizadores da agenda, que contou com uma equipe de historiadores, jornalistas, professores e estudantes para levantar fatos e fotos que poucos conhecem sobre a história do país nos séculos XIX, XX e XXI. Ele explica que na agenda saem os usuais suspeitos que encabeçam os mais respeitáveis relatos da terra brasillis e entram mulheres que jogam padres de sacristias e populações que resistem a bombardeios da aeronáutica brasileira. Isso mesmo! Aviões brasileiros jogando bombas na cabeça de brasileiros.
“Não tem Juscelino Kubitschek. Não interessa Juscelino. Brasília. Que Brasília? Brasília interessa os candangos que construíram. Não queremos dizer que temos grandes personalidades no Brasil. Isto a história oficial sempre fala, dos “grandes generais”, “presidentes”, “deputados”, “juristas”. Não, não, não, queremos falar do povo, do povo”, afirma Vito.
Por que uma agenda impressa em tempos de smartphones, Facebook e aplicativos? A agenda pode migrar de mídia?
Vito Giannotti: Agenda pode ser feita de mil maneiras, uma delas é a impressa. Eu acho que muita gente gosta de ter sua agenda impressa na bolsa ou em cima da mesa. Quer dizer, não é a única, mas é uma das formas de uma agenda. Como eu sou um defensor da imprensa, do jornal, do livro, da revista acompanhando toda esta tecnologia da mídia eletrônica via internet, nós fizemos essa agenda impressa.
Ela pode ser usada de mil maneiras. Tem gente que pega notícia do dia nessa agenda e coloca no seu Facebook, no Facebook do sindicato, no Twitter, ou onde quiser. Então não é ou um ou outro. Eu sou da opinião que a mídia eletrônica tem um espaço enorme a ser explorado e aproveitado por todo mundo que quer disputar a hegemonia na sociedade.
Só que nós estamos em um país onde 60% das pessoas não chegarão a usar a mídia eletrônica nos próximos 20 anos. Por isso que eu não sou exclusivista, “a mídia eletrônica é a salvação da lavoura”, não! A mídia eletrônica é um grande instrumento atual para jovens dinâmicos, para quem está acostumado a ler, a frequentar salas de cinema e teatro, quem lê revista, jornal, livro etc.
Agora, tem outros instrumentos. E um dos outros instrumentos é o jornal, que ainda não chegou no Brasil. Somos um dos países com menor índice de leitura de jornais no mundo, estamos em 101° lugar, o que é uma vergonha. Então vamos fazer chegar com jornais muito bem feitos, distribuídos gratuitamente para a população, e ela vai se acostumar a ler.
Quantas agendas o NPC já produziu e quais foram os temas?
Nós produzimos umas cinco ou seis agendas. A primeira foi sobre comunicação, a comunicação dos trabalhadores ou a comunicação que os trabalhadores precisam combater, colocando notícias sobre essa comunicação dia a dia, o nome foi Comunicação Dia a Dia. Foi em 2005 que saiu a primeira. Depois saiu outra, a história das lutas dos trabalhadores no Brasil, trabalhadores no século XX, foi uma série, umas 700 ou 800 notícias sobre greves, movimentos, agitações feitas pelos trabalhadores para mostrar para todo o mundo como se lutou no Brasil, como se conquistaram os direitos que temos e o perigo que temos de perder esses direitos. Então foi História das Lutas dos Trabalhadores. Depois teve outra que foi uma variação sobre comunicação, mais atualizada, ampliada.
Aí teve uma agenda sobre a luta das mulheres no Brasil e no mundo. A luta das mulheres pela sua libertação, pela sua afirmação na sociedade masculina, masculinista, machista na qual nós estamos, que todo mundo sabe muito bem o que é, embora muita gente queira fechar os olhos para isto. Nós fizemos essa agenda para fazer com que muita gente abra os olhos, na marra, para a luta das mulheres, para como as mulheres vivem, quais são os problemas políticos e sociais que fazem com que as mulheres sejam tratadas como seres de segunda, terceira ou quarta categoria. Então fizemos essa agenda, que eu acho que foi um trabalho de formação política muito interessante.
Aí reproduzimos algumas vezes aquela da luta dos trabalhadores revisada, atualizada e tal, e esse ano nós optamos por fazer essa agenda sobre lutas, revoltas, levantes e insurreições populares. Não são insurreições militares. Não! Lutas populares durante dois séculos, de 1800 até hoje.
Por que esse tema?
Porque nós achamos que esse tema é um tema trágico. Em que sentido? Há uma educação, melhor diria, uma deseducação, promovida pelas escolas, igrejas, sociedade, e sobretudo repercutida infinitamente pelo rádio e televisão que se resume naquela frase de brincadeira, que não é nenhuma brincadeira, é uma tragédia: “brasileiro é bonzinho”. O Núcleo Piratininga viu que essa frase é uma frase tremendamente nociva à educação das gerações velhas, novas e futuras. Por quê? Através de uma frase de brincadeira, meio jocosa, “brasileiro é bonzinho”, há o significado que brasileiro é bobão, bobalhão, vamos ser mais explícitos, é bundão! Sabe o que significa? Não luta! O brasileiro não enfrenta.
Historicamente significa “está aberto ao colonizador”.
É claro! Ao colonizador, ao opressor local, ao patrão. A tudo o quanto é forma de opressão. Ao governo que manda e desmanda e te diz que estamos em uma democracia, quando na verdade o povo, como disse Fabio Comparatto nesta semana no jornal Brasil de Fato, “no Brasil nós não temos democracia nenhuma, o povo não manda nada”, quem fala é o célebre jurista Fabio Konder Comparatto.
Mas por quê? Porque o brasileiro é bonzinho, “ah! Deixa, o governo resolve, o vereador resolve, o deputado resolve, o general resolve, a ditadura resolve”. Quer dizer, essa ideia que o brasileiro é bonzinho é uma ideia que reforça que o brasileiro é alienado, não participa de nada, não está nem aí, só quer saber de samba, futebol, cachaça, os homens querem saber só de mulher, as mulheres só de homem, e acabou, nada mais.
Enquanto lá fora não. Lá fora, olha a propaganda que vem; “Na Argentina, na França, na Grécia, Itália, Estados Unidos, o povo luta. Aqui é bonzinho”. Significa bundão. “O brasileiro é bonzinho...não luta por nada, só espera que caia da céu”. Essa é a ideia que nós queremos combater.
E como combater?
Tem mil maneiras de combater isso. A melhor maneira seria uma campanha feita em todas as escolas e pelos meios de comunicação. Só que televisão e rádio estão nas mãos de empresários, patrões, burgueses, donos do capital, do dinheiro. E para eles é importantíssimo manter essa ideia imbecil que o brasileiro não luta, não faz nada, não se revolta, aceita tudo. Por quê? Isso estimula a não se levantar, a aceitar tudo. Então os meios de comunicação têm todo o interesse em conservar a sociedade brasileira do jeito que está; porque para eles, para os donos do poder, está maravilhoso, divino, o Brasil.
O Brasil é o quarto país mais injusto do mundo, diz a ONU. Mas para esses donos do capital, que determinam os rumos do país, está maravilhoso. Claro, um país que não tem imposto para iate, barco particular, helicóptero. Um país onde o imposto territorial, o ITL, é ridículo, quase não existe, esse país é divino para quem tem terra, para o grande latifúndio, para o agronegócio. Então precisa manter esse país como está. Como? Difundindo, divulgando, repetindo, multiplicando a ideia que o Brasileiro é bonzinho, não luta, é só dar o futebol, uma feijoada e uma cervejinha que está tudo bem.
O quê nós quisemos mostrar nessa agenda? Centenas de lutas desconhecidas no Brasil. Não faladas, esquecidas ou citadas em uma linhazinha à toa. E nós queremos mostrar o contrário. São lutas feitas pelo povo, para não se deixar oprimir, para acabar com injustiças.
Os exemplos são inúmeros...
Tem luta de negros, mas não só a luta dos quilombos. Um monte de revolta, de levantes na Bahia, no Recife, no Nordeste, aonde tinha escravo. Levantes violentos, muito bonitos contra a injustiça. Tem uma luta na Paraíba chamada a Luta do Rasga Lista. Era o governo depois da guerra do Paraguai, 1865, por ali, aquela grande safadeza que nós fizemos com o Paraguai. Nós quem? O capitalismo inglês mandou Brasil, Argentina e Uruguai fazer contra o Paraguai... mas não vamos contar isso agora.
Depois dessa guerra o governo começou a manter lista de alistamento militar obrigatório, como durante a guerra, nas várias cidadezinhas do interior e tal. Mandava um fiscal junto com soldados para ler na praça pública, na frente ou dentro da igreja, o nome de quem era convocado. Ok. O povo não gostava porque tirava 20, 30, 50 jovens da cidade por dois, três anos, ninguém sabia se voltava ou não. Então tiveram vários episódios que o povo se levantou para rasgar as listas com os nomes.
Tem outro episódio fantástico, desta vez na Paraíba, que umas cem mulheres foram na igreja onde estava a lista dos futuros soldados e começaram a discutir e brigar com os militares. As mulheres rasgaram as listas, e o padre, enfurecido, começou a expulsar as mulheres da igreja. As mulheres correram atrás do padre, ele subiu na sacristia, na torre, e elas atrás dele enfurecidas. Até que empurraram o padre (graças a deus!!) para fora e ele morreu estrebuchado na praça. Isto é um episódio fantástico de luta popular! De mulheres! Quem diz que mulher brasileira é boazinha, é babaca? Só sabe fazer docinho e cuidar da bunda de criança? A mulher brasileira sabe cuidar de filho, sabe fazer comida, ok. Mas sabe também jogar um padre pela janela quando o padre se alia com o poder contra a vontade do povo.
Isso há mais de um século...
Cito outro mais recente para mostrar que o brasileiro não tem nada de pacífico, nada de bonzinho. 1937. No Ceará havia um lugar chamado Caldeirão. Lá se juntou um povo que ia para Crato, onde tinha o padre Cícero, para conseguir terra e tentar melhorar a vida. Juntou umas duas mil pessoas que plantavam coletivamente em um sítio que o padre Cícero tinha conseguido. Era um sítio dos jesuítas, que aí venderam para os salesianos. E o povo ficou lá, plantando e vendendo coletivamente.
O governo Vargas e os outros fazendeiros não gostaram, era um “péssimo exemplo” para outros agricultores. O exército foi lá, igualzinho a Canudos, e aí aconteceu a Guerra do Caldeirão. O governo mandava tropas, o povo resistia, e morria muita gente. Olha o brasileiro “bonzinho”! Enfrentava, não fugia e morria. Em dezembro de 1937, o governo de Vargas, a ditadura do Estado Novo, mandou a aviação bombardear aquele povoado. Derrubaram tudo e mataram 800 pessoas, os que sobraram os militares cortaram as cabeças. Olha os brasileiros enfrentando.
Ou seja, para resolver o problema, na visão deles, na visão do capital, o governo Getúlio Vargas mandou a aviação bombardear. Me diga onde se sabe de uma coisa dessas. Eu não conheço em outro país. Conheço na Espanha, Guernica, mas foi a aviação alemã que bombardeou a cidade para impedir a revolução socialista etc e etc. Um país estrangeiro. A Alemanha bombardeou os revoltosos de Guernica, na Espanha. Aqui no Brasil a nossa aviação que bombardeou os rebeldes. Olha o brasileiro “pacífico, bonzinho, de índole cordial” aí. Teve que mandar a aviação para acabar com esses “bundões” aí. Esse é o sentido da agenda.
Como foi a pesquisa e quais foram as principais fontes, inclusive de fotos?
Algumas centenas de livros que já tínhamos, compramos um monte de outros livros e começamos a pesquisa, sempre com o auxílio da internet, hoje em dia lá há trabalhos de pesquisa universitária, livros, e-book, satanás e tudo o mais. E conversamos com pessoas. Com gente do Ceará que me falou dessa Revolta do Caldeirão, que eu não acreditava. Ninguém sabe no Brasil, só alguns cearenses. Por que não sabe? Porque a Globo nunca vai falar disso. É um “péssimo exemplo” para os brasileiros de como se enfrentar, como se defender e como não fugir ao primeiro tiro. Qual é a ideia idiota que se fala, “é só dar um tiro que foge todo o mundo”. Mentira!
A pesquisa teve além de mim, três ou quatro pessoas, professores, universitários, que fizeram esse trabalho. Conseguimos também o auxílio de outros professores convidados, e umas quatro, cinco pessoas como estagiários. Pesquisamos, pesquisamos, teve que se confirmar cada data, cada lista e etc. Foi uma pesquisa de uns oito meses, depois redigimos e tivemos que procurar imagem, imagens liberadas e etc, para se colocar. Foi um trabalho, eu diria, muito duro, muito difícil, mas extremamente prazeroso.
Por que? Cada luta que se descobria, que nunca se tinha ouvido falar, era uma alegria. Alegria de dizer: “vamos publicar isto”. Dizer a centenas, milhares de pessoas que lerão isso. A alegria de poder oferecer um alimento extremamente sadio, uma informação muito sadia para acabar com essa ideia criminosa que o brasileiro é bunda mole.
E ainda ficou coisa de fora? Deu pena de fazer cortes?
Ah, sim! Claro que ficou coisa de fora. Porque a agenda é pequena, nós não queríamos fazer um livro. Tem livros muito bonitos, são citados alguns deles lá. Tem um livro com quase o mesmo título da agenda que saiu este ano (História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil, também de Giannotti). Ficou muita coisa de fora porque não cabe tudo na agenda, tem um espaço pequeno; colocamos uma, duas, no máximo três notícias por dia.
Como foi o critério de edição?
Primeiramente tinha que ser uma notícia confirmada, segura. O outro era que destacasse o aspecto de luta do povo, popular. Fizemos questão de quase nunca colocar nomes de pessoas, porque não é o herói sozinho que faz, sabe? Um mínimo possível de nomes de personalidades.
O critério foi de lutas populares. Não tem Juscelino Kubitschek. Não interessa Juscelino. Brasília. Que Brasília? Brasília interessa os candangos que construíram. Não queremos dizer que temos grandes personalidades no Brasil. Isto a história oficial sempre fala, dos “grandes generais”, “presidentes”, “deputados”, “juristas”. Não, não, não, queremos falar do povo, do povo.
Por que especial atenção ao século XIX e ao Nordeste?
Não é especial, foi o que a gente encontrou. XIX e XX colocamos. Não pegamos desde o começo do país porque primeiramente seria uma agenda com cinco vezes o volume dela, com toda a história dos quilombos e etc. Não colocamos isso de propósito. Não que não é importante, mas isso muitas vezes já é contado, se sabe um pouco. E depois tem que fazer uma seleção, um corte, senão a agenda fica imensa.
Nós queríamos pegar só o século XX, mas pensamos, “não, o século XIX tem muitas revoltas”, e elas aconteceram muito no Nordeste. Não esqueça, Pernambuco, Recife, era chamada a Noiva da Revolução. Veja só! Teve dezenas de levantes nas terras de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, que naquele momento era um enorme polo produtor de açúcar. Teve muitas revoltas dos povos índios, escravos ou o povo dos portugueses empobrecidos também contra o poder. Então nós relatamos o que nós encontramos. Não foi uma decisão de privilegiar o século XIX.
O século XX também tem destaque...
No século XX tem belíssimas lutas operárias. Colocamos greves, não todas elas, porque há mais de dez mil que dariam para colocar. Colocamos as grandes greves, como a de 1917 em São Paulo, quando a cidade ficou parada um mês, nas mãos dos grevistas. Começou com a morte de um sapateiro e etc. O governo teve que negociar na marra, se retirou da cidade, saiu de São Paulo e foi para Jundiaí, de trem, todo o governo. Igualzinho na França, na época da comuna de Paris, quando tomaram o poder e o governo se retirou para Versalhes. Igual Jundiaí com São Paulo, é uma greve fantástica.
Mas tivemos outras grandes greves, 1953, uma greve de uma semana em São Paulo com assembleia de 100 mil pessoas no estádio do Pacaembu recém inaugurado. Greve de 1957, 63, as grandes greves do ABC paulista. E em São Paulo a greve do Santo Dias. Claro que fala do nome Santo Dias, porque mostra um metalúrgico de SP em uma greve que foi feita com o sindicato contra, a oposição sindical liderou e o Santo Dias, que era um membro da chapa de oposição, foi fazer piquete. Estava lá com sete, oito colegas e chega a polícia e manda parar. E o Santo Dias, que era um homem “pacííífico”, jovenzinho, pai de dois filhos, disse que não ia parar, que era um direito dele. Discutiram e ele tomou dois tiros nas costas. Se ele fosse um brasileiro bonzinho, falaria, “sim senhor, eu vou parar senhor tenente”. Não, não parou. Foi o soldado Herculano que matou ele, um desses assassinos aí. E quem estava com o Santo Dias entrou na porrada. O João, da NWN, que estava lá no piquete com ele, se atracou com a polícia em cima do corpo do companheiro morto. É bundão esse povo?
Fala daquela greve, fala da greve do ABC, de cem mil pessoas no 1° de maio em São Bernardo, dos metalúrgicos de lá. Mas não fala “a greve liderada por Lula”. Não! Era o povo naquela greve! O destaque nós damos é para os trabalhadores parando durante 41 dias.
A agenda aborda três séculos. Dá para apontar lutas que de fato foram vencidas? E outras que, ao contrário, permanecem na estaca zero?
Lutas que foram vencidas. A luta dos metalúrgicos em São Bernardo conseguiu impor para o governo militar; primeiro, o fato de ter o direito de fazer greve; segundo, reajustes semestrais, naquele tempo o reajuste era anual e a inflação comia tudo. Conseguiu-se semestral e depois passou a trimestral. E é o seguinte, se não tivesse tido essas lutas, os salários que os patrões, que a ditadura militar queria impor, era um salário cada vez menor. Por quê? A ditadura militar, como fala Fabio Konder Comparato na entrevista ao “Brasil de Fato” que já citei, foi uma ditadura empresarial- militar, que o capital precisava para garantir seus lucros. Como? Reduzindo o salário e as despesas com os trabalhadores nas fábricas. Essas greves que foram feitas é que garantiram um salário minimamente digno para permitir quem está trabalhando viver. O capital faz a festa e os trabalhadores comem as migalhas. Mas se não fossem essas greves nem as migalhas se comeria.
E quais lutas permanecem na estaca zero?
A reforma agrária, por exemplo. Não digo estaca zero, mas no Brasil a reforma agrária está parada ...hum... desde o fim da escravidão. Quando acabou a escravidão? 1888. O que se fez? O que foi dado para os negros libertos? Um chute no traseiro, ou seja, não se deu um pedaço de terra, não se fez a reforma agrária. E esses negros, “livres, felizes da vida” foram para os cais dos portos trabalhar como carregadores de navios. Foram para os morros, fazendo seus barraquinhos. A reforma agrária não foi feita, Getúlio Vargas nunca falou em reforma agrária.
Aí pega o governo Lula. A reforma agrária que foi feita foi uma mixaria, uma vergonha, igualzinho ao que foi feito no governo FHC. A reforma agrária ainda não foi feita no país, por isso que existem milhões de sem-terra, por isso que existe o MST, para exigir a reforma agrária. Qualquer país capitalista fez sua reforma agrária. A reforma agrária não tem nada de revolucionááário, nada de socialista, nada de comunista. O mínimo de crescimento harmonioso em um país é distribuir terra para ter uma circulação maior de dinheiro, ter gente comprando, vendendo e um país menos desigual do que nós temos.
O governo Lula e o governo Dilma estão fazendo a reforma agrária à conta gotas. Do ponto de vista de assentamentos, de desapropriação de terras, primeiramente do estado, públicas e devolutas, ou do grande latifúndio, nem se fala no governo, de jeito nenhum. Desapropriar o grande latifúndio? Mas nem pensar. Ao contrário, é facilitar a vida do agronegócio para exportar commodities. Eu estava em Mato Grosso há dois dias e vi, o estado é uma plantação de soja e de milho só. O rei da soja do mundo é o primo do Blairo Maggi (ex-governador do MT), é um Maggi aí. Está lá em Mato Grosso. E os sem-terra. “Sem-terra? Que morram os sem-terra”. Qual a solução para os sem-terra? “Vai para a cidade fazer favela lá que tem espaço para morrer à vontade”.

Fotos: Divulgação

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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ex-cortador de cana é o 1º prefeito eleito pelo PSOL

FELIPE WERNECK - Agência Estado

Ex-cortador de cana e presidente há 18 anos do Sindicato dos Servidores Públicos de Itaocara, Gelsimar Gonzaga é o primeiro prefeito eleito pelo PSOL no País. O sindicalista derrotou a hegemonia do PMDB no município de 23 mil habitantes no noroeste do Estado do Rio com uma campanha feita em um fusca amarelo 73 e marcada pela promessa de um governo "ético, honesto e transparente".

Gonzaga, de 48 anos, recebeu 6.796 votos sem coligação com outro partido e foi eleito com 44,26% dos votos válidos, superando candidatos do PMDB (31,94%), do PR (11,53%), do PP (9,82%) e do PT (2,45%). Nem a direção nacional do PSOL acreditava em uma vitória na pequena cidade do interior.

O 1.º tesoureiro do partido, Francisvaldo de Souza, reconheceu que o resultado foi "uma surpresa". "Agora vamos acompanhar de perto para que seja feita uma boa administração sob a ótica do trabalhador. Senão, pode acabar manchando a história do partido", disse o dirigente. O prefeito eleito disse que o apoio é bem-vindo. "Eu agradeço, quero que venha mesmo, para me ajudar a fazer o melhor", declarou. "Nenhum centavo pode ser desviado." Gonzaga prometeu participação popular, por meio de conselhos. "A comunidade será sempre ouvida. Os conselhos é que vão decidir o que tem de ser feito."

Quiabo

O socialista também anunciou que fará uma auditoria nas contas do antecessor e disse acreditar que o combate ao desemprego será o seu principal desafio. Itaocara tem uma economia essencialmente agrícola - o município é o principal produtor de quiabo do Estado. Na campanha, Gonzaga usava o fusca equipado com caixa de som, microfone e bandeira do PSOL. Ele não é um novato na política. Um dos fundadores do PT, já havia perdido seis eleições. Na primeira, para vereador, em 1992, obteve 48 votos. Depois foi candidato a vereador mais duas vezes, a deputado outras duas, e já tinha sido derrotado para a prefeitura. Afirmou ter gasto R$ 20 mil para se eleger. "Foi doação de amigos, não aceitamos um centavo de pessoa jurídica."

Nascido e criado na roça, Gonzaga deixou Itaocara aos 18 anos para iniciar a militância no sindicalismo. Na capital, tornou-se diretor do Sindicato dos Bancários. Ficou dez anos no Rio, voltou para o interior, fez um concurso público e virou agente de saúde. Ficou só dois anos no batente. Licenciou-se, entrou para o sindicato dos servidores e continua militando até hoje. "A gente vai aonde tiver luta em defesa dos trabalhadores. Inclusive fui lá no Pinheirinho e apoiei a luta contra a desocupação." Além da conquista de sua primeira cadeira no Executivo desde a criação do partido, em 2005, o PSOL ainda disputa o segundo turno em duas capitais: Macapá e Belém.