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Foto: Filipe Araújo
Os
manifestantes que ocuparam as ruas das principais capitais do País
neste domingo (13) se somaram à voz de uma direita conservadora e
regressiva, convocada por grandes empresários e líderes políticos,
sobretudo do PSDB e PMDB.
Entidades
empresariais como a Federação das Indústrias do estado de São Paulo
(Fiesp) e a Associação Comercial de São Paulo investiram na convocação
ao ato. Ganharam, por exemplo, a adesão da rede de alimentação Habib’s
–que tentou obrigar seus funcionários a participarem do ato, mas foi
impedida por uma liminar judicial–, e de veículos de comunicação, como a
Rede Globo de Televisão, que autorizou e fez questão de noticiar a
presença de seus atores e atrizes nas manifestações.
Desde
o final de 2014, a indignação contra a corrupção e o governo Dilma
ganhou a liderança de grupos como o Movimento Brasil Livre, além do
apoio de entidades empresariais, de veículos de comunicação e a
articulação de políticos, segundo o pesquisador PabloOrtellado,do curso
de gestão de políticas públicas da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da USP.
“Esses
agentes subordinam a justa indignação popular contra a corrupção à
agenda liberal de reformas que deve subtrair direitos da população.
Articulam também a substituição dos grupos políticos denunciados por
corrupção por outros sobre os quais recaem suspeitas tão ou mais
graves”, afirma Ortellado.
A
manifestação em São Paulo, segundo ele,mostrou mais uma vez um grau
muito grande de mobilização da classe média profissional branca, de
escolaridade e renda alta. De acordo com o Datafolha, 26% dos
participantes ganham entre 5 e 10 salários mínimos e 24% entre 10 e 20
salários mínimos. Para além das entidades patronais foi observado apenas
um caminhão da Força Sindical.
Em
Porto Alegre (RS), segundo o jornal gaúcho Zero Hora, 40% dos
participantes recebem mais de 10 salários mínimos, 76% delesvotaram em
Aécio e 73% não têm desempregados na família.
“Ano
passado coordenei pesquisas de opinião com os manifestantes mobilizados
nos protestos de abril e de agosto contra o governo federal. Os dados
mostraram que os participantes dos atos em São Paulo desconfiam muito do
PT, mas não têm confiança nos outros partidos e nos grandes meios de
comunicação. Tudo indica que a maioria dos manifestantes que pede o
impeachment é a favor de nosso sistema constitucional de direitos. Essa
não é, porém, a impressão que temos ao acompanhar os protestos”,
ressalta o pesquisador.
A
grande massa que esteve nos protestos, diz Ortellado, defende o caráter
público, universal e gratuito do sistema de educação e do sistema de
saúde. A maior parte deles defende direitos individuais, como a união
homoafetiva, mas se colocou ao lado de defensores de uma agenda
retrógrada.
Ortellado
questiona por que esses setores e manifestantes se colocaram sob a
liderança de grupos, como o Movimento Brasil Livre, que pregam a
privatização e o desmonte do sistema público de saúde e educação. E faz
alguns questionamentos: “Por que os manifestantes toleraram a
participação de skinheads, de defensores da intervenção militar, de
nazistas e de grupos que querem impedir que homossexuais constituam
família?Por que os manifestantes fizeram apologia de uma Polícia Militar
que é sistematicamente acusada de desrespeitar os direitos humanos? Por
que aceitam que o afastamento da presidente Dilma seja conduzido e
termine por beneficiar políticos como o deputado Eduardo Cunha, acusado
de participar dos desvios da Petrobras?”.
Em
Brasília, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ídolo dos racistas,
machistas, homofóbicos e dos que defendem saídas autoritárias da
ultradireita, foi aplaudido ao dizer: “Aos amigos da área rural, no que
depender de mim, vocês tem de ter como cartão de visitas para os
marginais do MST um fuzil 762”.
Em
São Paulo, um grupo de manifestantes fez a saudação nazista sem ser
interpelado por ninguém. Políticos como Aécio Neves (PSDB), Geraldo
Alckmin (PSDB) e Marta Suplicy (PMDB) foram hostilizados, o que
demonstra que a campanha que a direita vem fazendo também foge do
próprio controle deles.
Em Curitiba e outras capitais, o juiz Sergio Moro foi lembrado como um herói nacional na luta contra a corrupção.
Ortelladolembra
que em 1989, o candidato a presidente Fernando Collor de Mello foi
eleito com a plataforma de combate “aos marajás”, apenas para sofrer,
pouco depois, um processo de impeachment. “Essa memória histórica
deveria funcionar como um alerta”, diz o pesquisador.
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