Comissão Pastoral da Terra divulgou nota nesta sexta-feira, 8, cobrando
responsabilidades pelas mortes de camponeses pelo País; segundo a
entidade, em 2015, 50 trabalhadores foram assassinados no campo, e
apenas neste ano já foram 13 mortes, entre elas as dos dois agricultores
do MST, mortos pela PM do Paraná; "A democracia que buscamos precisa
reconciliar esse povo com esse território, acabando de vez com a sanha
assassina do capitalismo e seus truques de colocar as maiorias de
joelhos longe do poder e as minorias pelos salões e corredores trocando
favores e influência", afirma a CPT; "O projeto popular para o Brasil
que construímos foi derrotado e precisa ser reinventado. A hora para
fazer isso, é agora"; leia íntegra
247 - A Comissão Pastoral da Terra divulgou nota
nesta sexta-feira, 8, cobrando responsabilidades pelas mortes de
camponeses pelo País. A CPT mencionou a prisão do Cacique Babau e seu
irmão na Bahia, o assassinato de dois trabalhadores ligados ao Movimento
dos Sem Terra (MST) no Paraná, e outros crimes contra camponeses no
Maranhão, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
"Em 2015, o sangue de 50 trabalhadores e trabalhadoras assassinados
no campo e o sangue de Vitor, criança Kaingang degolada no colo da mãe
na rodoviária de Imbituba, em Santa Catarina, continuam a escorrer na
vala da impunidade. Ao sangue deles se soma o de outros 13 lutadores e
lutadoras tombados neste ano de 2016", afirmou.
Leia na íntegra a nota pública da Comissão Pastoral da Terra:
"Quem vai deter a violência contra as comunidades camponesas?
Prenderam Cacique Babau e seu irmão na Bahia, executaram dois
companheiros sem terra e deixaram muitos feridos no Paraná, no dia 07 de
abril. Uma liderança de assentamento e do PT na Paraíba foi executada
dentro de casa, ao lado da filha de um ano, no dia 06. No dia 31 de
março, na comunidade quilombola Cruzeiro, município de Palmeirândia, MA,
foi encontrado morto por disparo de arma de fogo o quilombola,
conhecido como Zé Sapo. Em Rondônia mortes violentas, desaparecimentos e
crimes rondam as comunidades camponesas. Em Mato Grosso e no Pará
despejos violentos são constantes, e fazendeiros mandantes de crimes
contra lavradores são absolvidos. No Mato Grosso do Sul as comunidades
indígenas vivem ameaçadas e violentadas em suas próprias terras
ancestrais.
Em 2015, o sangue de 50 trabalhadores e trabalhadoras assassinados no
campo e o sangue de Vitor, criança Kaingang degolada no colo da mãe na
rodoviária de Imbituba, em Santa Catarina, continuam a escorrer na vala
da impunidade. Ao sangue deles se soma o de outros 13 lutadores e
lutadoras tombados neste ano de 2016.
É competência do Governo Federal demarcar terras indígenas e fazer a
Reforma Agrária. Se coisas como essa acontecem é porque há milhares de
camponeses debaixo da lona preta à espera da tão prometida - e hoje
abandonada - reforma agrária, e ainda milhares de indígenas e
quilombolas tentando retomar os territórios dos quais foram esbulhados.
O fim do mundo para o povo excluído começou faz tempo. A execução de camponeses e indígenas nesse país é coisa comum.
Quando o governo federal entregou o Ministério da Agricultura para o
agronegócio, autorizou também o latifúndio a continuar expulsando e
matando os/as trabalhadores/as sem terra e indígenas.
Quando a reforma agrária vira moeda de troca e cabide de emprego na
ineficiência criminosa do Incra, os antigos laços entre policiais e
jagunços se reforçam mantendo intacto o cenário sem lei e sem direito no
campo no Brasil.
Quando o TCU (Tribunal de Contas da União) determina a paralisação
imediata do programa de reforma agrária do Incra em todo o país, age
assim porque é um programa que beneficia excluídos, não faz a mesma
coisa quando fraudes maiores e mais graves acontecem no sistema
financeiro, ou quando estão envolvidas grandes empresas.
Quando a estrutura política, econômica e jurídica do país se move ao
redor dos interesses de uma minoria burguesa, elitista e racista contra
os interesses das maiorias negras e pobres, autoriza também o terror nas
favelas e periferias – no campo e na cidade.
Na contramão dessa barbárie institucional e política, o povo do
campo, com coragem, se insurge e mantem viva a esperança do seu
território reconquistado, como fazem os Tupinambás e tantas outras
etnias indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Como acontece
na incansável e inglória luta pela terra pelos posseiros e sem terra de
todos os cantos. Esse é o verdadeiro Brasil do sacrifício e da semente
dos mártires, plantada e replantada na terra que sangra todos os dias.
Pensar o cenário nacional hoje não pode ser um exercício curto de
identificar os golpistas de sempre e as manipulações da mídia. Que
sejamos contra o golpe institucional que se encaminha, mas que sejamos
também honestos: a democracia que queremos tem que passar pela terra,
tem que começar pelos territórios indígenas, tem que interromper a
destruição de florestas e cerrados, e estancar de vez o sofrimento e
assassinato do povo que busca terra pra viver e plantar.
A democracia que queremos começa no chão! A democracia que defendemos
passa pela casa do povo pobre! A democracia que buscamos precisa
reconciliar esse povo com esse território, acabando de vez com a sanha
assassina do capitalismo e seus truques de colocar as maiorias de
joelhos longe do poder e as minorias pelos salões e corredores trocando
favores e influência.
A democracia que queremos... não existe! O projeto popular para o
Brasil que construímos foi derrotado e precisa ser reinventado. A hora
para fazer isso, é agora. O povo que vai fazer isso, somos nós, pela
base.
A CPT convocada pela memória subversiva do evangelho da vida e da
esperança, fiel ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da
terra, ouvindo o clamor que vem dos campos e florestas, seguindo a
prática de Jesus, se junta a outros movimentos e articulações na
denúncia do sistema que violenta o direito dos pobres e mais fracos.
Nossa irrestrita solidariedade ao cacique Babau, ao povo do campo,
das águas e das florestas, aos sem terra e a todos os que sofrem a
intolerância e a perseguição, quando buscam o reconhecimento de sua
cidadania e dos seus direitos. Que sigamos em caminhada, em romaria em
busca da terra sem males!
Goiânia, 08 de abril de 2016.
Coordenação Executiva Nacional da Comissão Pastoral da Terra"
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