Escrito por Waldemar Rossi
Se bem que os trabalhadores brasileiros não tenham como e por
que esperar por dias melhores ao longo de suas vidas, também não há certeza de
que “dias piores viriam”, apesar de todos os sinais dos tempos políticos e
econômicos. Mas o trabalhador não encontra tempo para mergulhar em análises
sociopolíticas; é escravo do tempo que usa para ir e voltar do trabalho e pelas
longas horas de sua jornada em busca do necessário para garantir a sua
sobrevivência e a de sua família. “Informa-se” pelo noticiário da Globo ou lendo
as manchetes de jornais, que nada informam, e vai caminhando no mundo das
incertezas.
Assim, apesar das muitas evidências de que o ano seria duro, o
trabalhador que ainda estava no emprego tinha esperanças de que 2015 seria menos
ruim que os anteriores. Por outro lado, aquele que já estava desempregado
alimentava ao menos a esperança de conseguir um bom emprego com salário que
desse para “remediar” as dificuldades rotineiras de uma casa de quem vive do seu
ganha-pão.
Na medida em que os meses foram se sucedendo, o homem e a
mulher que trabalham foram percebendo que suas esperanças calcadas no sistema
que nos governa estavam indo água abaixo. Progressivamente, foram sentindo que
seus dias amargos poderiam chegar, fazendo aumentar as angústias também
rotineiras em suas vidas. Para milhões desses lutadores, o “dia D” chegou com a
notícia de que estavam desempregados.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),
entre janeiro e novembro deste ano foram fechadas 945.363 vagas de trabalho com
carteira assinada. Em doze meses (dezembro 2014 e novembro 2015), o país fechou
1.527.463 postos de trabalho. Porém, os números são frios e não
abordam os dramas originados pelo desemprego na vida daqueles que, enquanto no
trabalho, deram parte de suas vidas para gerar a riqueza para as empresas e seus
empresários. O universo capitalista é perverso, cruel, frio, gera crimes
hediondos camuflados pela mídia mancomunada com o mundo empresarial.
Como dito, os números são frios e nem sempre mostram a verdade.
Quando os dados oficiais revelam os números do desemprego não estão revelando os
dados referentes à rotatividade do trabalho. Quantos outros trabalhadores também
ficaram desempregados, por algum tempo, para conseguir novo emprego, em geral
com seus salários rebaixados? Sem dúvidas, esses vão muito além dos números
oficias do desemprego. E, assim, de rotatividade em rotatividade, sobretudo em
épocas de crise para a economia capitalista, o padrão de vida do assalariado vai
sendo reduzido progressiva e cruelmente, sem que ele se dê conta do abismo em
que está sendo jogado.
Apesar do sistema e seus crimes, nem tudo são trevas. Novas
gerações vão se insurgindo contra todos esses desmandos, desacreditando nos
políticos, nos partidos, nos governantes e nas instituições. São os jovens que
consciente ou inconscientemente ainda se dão conta de que já não dá para esperar
pelos “de cima” e, aos poucos, vão descobrindo novas formas de fazer política, a
sua política, que vem de baixo cutucando os de cima.
Foi assim em 2013 com a rebeldia de algumas centenas de
milhares de jovens que ousaram ocupar as praças e ruas das nossas cidades,
protestando contra tudo e contra todos, não apenas para exigir o “passe livre”.
Foi a mescla de gerações quarentonas e gerações realmente jovens que não se
intimidaram diante do extraordinário e violento aparato policial dos vários
estados.
Para muitos, ficou a sensação de que “a onda” havia passado.
Esqueceram-se de observar que a brasa continuou viva, embora encoberta por
vários tipos de cinzas, para explodir com muita força, coragem e vigor, na
ocupação das centenas de escolas estaduais do estado de São Paulo – o que agora
contagia os secundaristas de Goiás.
Por incrível que possa parecer, a mídia canalha não conseguiu,
como de costume, jogar a opinião pública contra a garotada. Nem mesmo os
instrumentos de pesquisa conseguiram camuflar os dados, pois tiveram de revelar
o óbvio: a maioria da população paulista estava contra o governo e a favor da
luta pela justiça. Caiu o todo poderoso Secretário da “Educação” e o arrogante
governador se viu forçado a baixar sua crista. Claro que essa guerra não acabou.
Os reacionários não se deram por vencidos e tentarão repetir a
traição praticada contra a juventude, pela então secretária da Educação dos
tempos de Mario Covas, Rose Neubauer, que fez nosso sistema de ensino se
transformar num dos piores entre os 27 estados brasileiros.
A guerra não acabou também para essas novas gerações que, “aos
trancos e barrancos”, vão fazendo seu aprendizado político e descobrindo que
podem ser os protagonistas das mudanças estruturais de que este país tanto
necessita.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador
da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
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