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domingo, 14 de abril de 2013

Nicole Bahls, Gerald Thomas e a cultura do estupro

Por Carol Patrocínio | Preliminares – Postado Yahoo Brasil

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Gerald Thomas tentou passar a mão em Bahls. (Foto: AgNews)

Ontem eu estava voltando para casa quando vi um cara incrível - gato, gostoso e com o corpo todo malhado – passar por mim sem camisa. Não pensei duas vezes. Fui lá, puxei o cara para perto de mim. Ele ficou meio sem entender o que estava acontecendo, mas mesmo assim eu passei a mão pela barriga dele e tentei abrir o zíper da calça. Ele deu uma risadinha sem graça, mandou um “calma aí” e segurou minha mão. Pena que ele era mais forte do que eu, senão eu tinha conseguido o que chegar onde queria!

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Essa história acima não parece errada? Um cara sem camisa passa e por isso eu acho que tenho o direito que colocar a mão no pênis dele. É assim que funciona a vida? Ele está sem camisa porque quer me passar o recado de que está disponível para fazer sexo com quem quiser, a hora que a pessoa quiser? NÃO! Ele está sem camisa porque está com calor, certo? E eu não tenho o direito de chegar perto e simplesmente tocá-lo, certo?

É claro que a descrição que abre o texto é inventada. Eu sei muito bem que existem limites entre as coisas, embora pareça que esses limites só existam para algumas pessoas visto o que aconteceu com Nicole Bahls, enquanto fazia a cobertura do lançamento do livro de Gerald Thomas, em uma livraria no Leblon (RJ).

Nicole usa roupas curtas e justas. Ela tem um corpo incrível, malha todos os dias e é esse mesmo corpo que eleva a audiência do programa em que ela trabalha. Mas nada disso é um convite para que um desconhecido tente tocá-la. Essa é a persona profissional de Nicole.

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Você admitiria esse tipo de atitude com alguém da sua família? (Foto: AgNews)

Você admitiria esse tipo de atitude com alguém da sua família? (Foto: AgNews)Cada pessoa tem um talento. Alguns são bons de papo, outros são gênios da física, outros cozinham como ninguém e algumas pessoas nasceram com facilidade de ter corpos que podem ser modificados facilmente com malhação. Cada um usa seu talento como quer e nada disso é um convite. Não é porque você está morrendo de vontade de comer um doce que o dono da padaria tem que te dar um pedaço de bolo, certo? E você também não pode entrar e passar o dedo na cobertura. Todo mundo conhece e entende esse tipo de regra.

E então por que com mulheres as coisas são diferentes? Isso é chamado de cultura do estupro. Como já falamos aqui, estupro não é apenas o sexo com penetração feito a força. E a cultura em que vivemos não condena atos como o de Gerald Thomas. E isso é errado.

A mulher não está nesse mundo para servir aos desejos masculinos. Assim como mulheres olham para os caras sem camisa, os homens podem OLHAR para as mulheres que chamam sua atenção. OLHAR. Tocar não é permitido. Falar o que você faria com ela se estivesse num quarto faz de você um porco.

Somos animais racionais. Temos uma diferença enorme em relação aos outros animais: conseguimos conter nossos instintos. Assim como você sabe que não pode comer o doce da padaria, que não pode pegar um relógio incrível numa loja, você sabe, no fundo do seu ser, que não pode tocar em uma mulher sem o seu consentimento. Vestido curto não é consentimento.

O que nós fazemos ao dizer que a panicat pediu por aquilo, mereceu ou até que ela gostou é dizer, nas entrelinhas, que estupro e abuso sexual é uma coisa normal. E não é. Nossas filhas, amigas e irmãs também usam vestidos, também são sexualmente atraentes para alguém e também correm o risco de passar por isso. Em países que obrigam mulheres a vestir burcas ainda há estupro, quer prova maior de que a roupa não é a responsável por isso?

E aí algumas pessoas vão dizer que ela estava sorrindo na foto. Isso, ela estava. Mas ninguém consegue notar uma ponta de constrangimento? Lembre-se que o câmera não parou de gravar, o companheiro de programa que estava com ela não parou de entrevistar e ela estava ali, dando a cara a tapa para o mundo. Sabe quando seu chefe faz um comentário horrível e sem graça e ainda assim você ri? É a mesma situação. Na hora que as coisas acontecem ninguém sabe bem como agir, e certamente foi o que aconteceu com ela.

Culpar a mulher por se vestir de certa maneira, ter certas atitudes ou posturas sexuais não resolve o problema. Temos que ensinar nossos filhos que não é certo tocar em qualquer coisa que não seja sua, inclusive partes de corpos, mostrar que tudo tem sua hora e lugar e que se ele está interessado em uma garota deve conversar com ela e ver se ela tem os mesmos interesses nele. Não é só chegar e pegar o que lhe parece bonito.

E, acima de tudo, temos que condenar esse tipo de atitude de homens adultos. As pessoas adoram reclamar de políticos, dizer que eles estragam o país, mas batem palmas quando uma mulher é abusada publicamente. Poderia ser sua mãe – acredite, existem pessoas que a acham atraente e têm interesse sexual nela assim como Gerald Thomas tem na Nicole Bahls. O errado é errado para todo mundo e não apenas para as pessoas que você julga se portarem da maneira certa.

Você tem alguma dúvida sobre sexo? Manda para mim no preliminarescomcarol@yahoo.com.br e siga-me no Twitter (@carolpatrocinio).a

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