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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Acirrada, eleição na Venezuela entra na reta final

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Principal candidato da oposição, Henrique Capriles vem oferecendo declarações ambíguas  sobre se aceitaria o resultado da eleição. Perguntado, na segunda (dia 1), se reconheceria os dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), limitou-se a responder que reconheceria o "resultado do povo"

Daniel Cassol

de Caracas (Venezuela)

A Venezuela entra na reta final da eleição presidencial com uma demonstração de força do  principal candidato de oposição, uma mobilização dos movimentos sociais nos redutos  chavistas e um clima de incerteza em relação ao resultado final da votação, embora a  maioria dos institutos de pesquisa aponte o presidente Hugo Chávez como favorito.

A disputa apertada e a ocorrência de episódios de violência alertam para o risco de  desestabilização após a divulgação do vencedor. No dia 1 de outubro, o representante permanente da Venezuela nas Nações Unidas, Jorge Varelo, denunciou o risco de desestabilização por parte da oposição. "Setores nacionais antidemocráticos e golpistas, aliados a poderosos interesses externos, tentarão utilizar a violência para ignorar a vontade popular", afirmou Valero na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Principal candidato da oposição, Henrique Capriles vem oferecendo declarações ambíguas  sobre se aceitaria o resultado da eleição. Perguntado, no dia 1, se reconheceria os dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Capriles limitou-se a responder que reconheceria o "resultado do povo". Um  resultado por margem apertada abriria margem para contestações, apesar da confiabilidade do sistema eleitoral venezuelano, considerado um dos mais seguros do mundo.

Disputa acirrada

Uma demonstração de força de Capriles foi dada no último domingo (30), em Caracas, quando centenas de milhares de simpatizantes tomaram os cerca de dois quilômetros da avenida Bolívar e suas adjacências para o último comício da campanha.

Na próxima quinta, será a vez de Chávez realizar seu último ato de campanha no mesmo local. Para os dois candidatos, os últimos dias serão importantes para convencer eleitores indecisos ou que não pensam em comparecer aos centros de votação.

Ainda que Capriles tenha conseguido aglutinar a oposição venezuelana e reunir a simpatia da parcela descontente da população, a maioria das pesquisas de intenção de voto dá vantagem para Chávez, que tem forte apoio entre as classes populares.

O prazo legal para a divulgação de pesquisas eleitorais terminou no domingo e, nas últimas semanas, dez institutos diferentes divulgaram os resultados de seus levantamentos. Seis deles apontavam vitória do atual presidente, enquanto dois davam vantagem a Capriles e outros dois, empate técnico.

O mais conhecido deles, o Datanalisis, divulgou no dia 28 resultado da pesquisa que  aponta Chávez com 49,4% das intenções de voto, contra 39% de Capriles. Outros 11% optaram por não declarar voto.

É sobre os chamados "ni-nis", que não se declaram "ni" Chávez "ni" Capriles, que recai a maior expectativa sobre o comportamento eleitoral. A abstenção ficaria entre 21% e 25%, entre os 18 milhões de eleitores aptos ao voto. O detalhe é que a pesquisa Datanalisis foi realizada entre o fim de agosto e o começo de setembro.

Levantamentos mais recentes de outras empresas, por sua vez, apontaram vantagem maior para o atual presidente. O instituto Hinterlaces apontou 50% para Chávez e 34% para Capriles em pesquisa realizada entre 10 e 22 de setembro. Já a empresa Consultores 30.11 indicou que Chávez ganharia com 57% das intenções de voto, contra 37% de seu opositor, em estudo realizado entre 21 e 25 de setembro.

A GIS XXI-escenarios, de propriedade do ex-ministro da Comunicação de Chávez, Jesse Chacon, deu 56,2% para o presidente contra 43,8% para o  opositor, em levantamento realizado entre 14 e 20 de setembro. Apesar dos resultados distintos, os institutos de pesquisa mais respeitados coincidem em um ponto: que Capriles obteve um rápido crescimento nas últimas semanas, diminuindo a distância para Chávez, que manteve seus índices ou obteve pequena elevação. Os analistas, em sua maioria, acreditam que Chávez vence por uma diferença relativamente pequena em relação a seu opositor.

Campanha

Recém-saído de um tratamento contra o câncer, Chávez fez uma campanha menos frenética, mas não deixou de recorrer o interior do país e fazer grandes comícios. Já Capriles afirma já ter dado três voltas na Venezuela, fazendo uma campanha "porta a porta".

A violência urbana e a falta de eficiência do governo foram alguns dos principais temas  explorados pela oposição durante a campanha. Por seu lado, Chávez defendeu os avanços  sociais na Venezuela, que comanda desde 1999, e acusou seu opositor de querer aplicar um "pacotaço neoliberal" no país, o que poderia representar um desmonte das políticas  sociais.

Já Capriles se viu obrigado a elogiar políticas chavistas e prometer a  manutenção das "Misiones Bolivarianas", mas acusou o governo de "presentear" petróleo e royalties para outros países, enquanto problemas internos se agravaram.

Em entrevista a uma rede de televisão no fim de semana, Chávez admitiu que em seu governo "há muitos erros como a ineficiência, o burocratismo e a falta de acompanhamento dos projetos que se  aprovam". Eleito em 1998, Chávez passou por mais duas reeleições, em 2000 e em 2006, um referendo revogatório em 2004, além de uma tentativa de golpe em 2002. No período, utilizou os altos recursos proveninentes do petróleo para impulsionar políticas sociais e de distribuição de renda que levaram a Venezuela a se tornar o terceiro país latino-americano com o menor índice de pobreza e o primeiro com a menor desigualdade social, de acordo com a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), além de ser declarada livre do analfabetismo pelas Nações Unidas.

Se vencer a disputa deste domingo, estenderá seu mandato até 2018, completando 20 anos na presidência do país - tempo necessário, segundo seu programa político, para transformar a estrutura do Estado venezuelano.

Capriles é um advogado de 40 anos que já foi prefeito e presidente da Câmara de  Deputados, e atualmente é governador do estado de Miranda. Filho de uma rica família,  dona de um grupo de comunicação, uma empresa de entrenimento, indústrias e imobiliárias, Capriles foi alçado cedo à política - aos 28 anos, foi presidente da Câmara de Deputados.

No atual processo eleitoral, apareceu como alternativa para reaglutinar partidos de  oposição na medida em que encarnava a figura do "novo". Ao longo da campanha, tentou  afastar-se da imagem de representante das elites. Com um discurso moderado, ele vem  prometendo manter iniciativas de sucesso no governo Chávez, como as missões voltadas para a educação, assistência médica, construção de moradias e produção de bens e serviços.

Capriles evita atacar diretamente Chávez, porque perderia votos, e diz que pode fazer um  governo parecido com o de Luiz Inácio Lula da Silva, no Brasil.

Aumento da tensão

Mesmo polarizada, a campanha eleitoral na Venezuela não registrou episódios mais graves.  No sábado (29), porém, dois simpatizantes de Capriles foram mortos a tiros durante uma  carreata no interior do país. A oposição diz que os atiradores eram militantes pró-Chávez. Um suspeito foi preso no domingo. O episódio, único com gravidade ocorrido até o momento, contribuiu para elevar o tom entre as duas candidaturas, que se acusam mutuamente de incitar a violência.

"O discurso violento do candidato do governo será derrotado no dia 7 de outubro. Ele sabe que seu destino está escrito, a derrota e o encerramento de seu ciclo", escreveu Capriles no Twitter ainda no sábado. O governo e os apoiadores de Chávez afirmam que, nesta reta final, a oposição pode buscar gerar episódios de violência e desestabilização, a fim de  poder contestar a lisura do processo eleitoral.

A possibilidade de um resultado apertado no próximo domingo cria um alerta sobre o aumento das tensões após a eleição. No entanto, o processo eleitoral na Venezuela é considerado seguro, contando com identificação biométrica, voto eletrônico e comprovante  impresso. O ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, afirmou recentemente que o sistema venezuelano é "o melhor do mundo".

[O Brasil de Fato está participando da cobertura colaborativa ComunicaSul - comunicasul.blogspot.com]

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